AMAR É RETIRAR EXCESSOS

AMAR É RETIRAR EXCESSOS

Amar é retirar excessos. Desobstruir a passagem de tudo aquilo que impede nosso crescimento. É preencher vazios, embora não por completo. Amar também é limitar. Não é tolher, delimitar fronteiras, meramente. É pôr foco. É contemplar – fazer do nosso olhar um descanso. O amor deve se dispor de si para ser ao outro.

Nasci de um não saber. E, quando soube, me coloquei a transformar o mundo. Quero ser o rei leão de mim, assim, sirvo à selva. Não sou selvagem, mas tenho minhas selvagerias. Preciso agregar o meu rugido à minha disposição de viver. O amor nos autentica e nos separa de uma infinidade de medos latentes. É “limitoso”, porque parte daquilo que sou para ir ao que o outro gostaria que fosse. Sou negações e afirmações.

Tenho muito talvez. O talvez é o silêncio. Maturação. Viver é pagar o resgate de nós mesmos todos os dias. Quando não, a volta poderá ser irreversível; o cuidado diário. O que é “nosso” precisa ser comprado. É como pagar imposto para manter o que, aparentemente, conquistamos. É tão fácil soltarmos as mãos tanto quanto nos darmos.

Como não perder a liga diante de tantos caminhos? Hei de ser plural nesse mundo plural. Ser singular é fácil. E, embora pareça harmonioso ser múltiplo, é na versatilidade que somos mais sufocados. Risco iminente de descosturarmos a fazenda que necessitou de anos para ser feita. Idealizações. Violências gentis.

O imundo é a negação do mundo. Nos sujamos a todo tempo com superficialidades, com pensamentos mesquinhos e relacionamentos objetais, transitoriedades. O que fica, deixo, levo? Não posso levar o mundo inteiro.

O amor é feito de acabamentos, molduras; nunca de conclusões. O que nos interessa é a pintura. Entretanto, pode uma imagem ser bonita se no seu entorno estiver o feio? Contrários e contrariedades são conceitos distintos diante da poesia. No contrário, há uma harmonia, um não anula o outro. Nas contrariedades, o caos se estabelece de forma a não dar espaço.

Que não nos seja dado um amor satisfeito. “O amor sobrevive de desejos”. Deixar espaço para a novidade, embora, quase sempre, a expectativa seja parte melhor que a concretização dos fatos. Todas as relações têm um campo minado. Todas têm o seu mistério. Não se trata de segredos, mas de uma impossibilidade de saber da totalidade da qual somos constituídos. Não devemos cair na ousadia de dizer que sabemos tudo de nós mesmos, porque estamos sendo feitos.

Desejo não é prazer. O prazer cessa na satisfação. O desejo é uma mola propulsora, nos impulsiona e nos faz crer que o território da nossa humanidade ainda tem muito a ser explorado. Amadurecendo, nós deixamos de ser vitimados, fortalecemos nosso cristal, partimos para a fortaleza. O que sobrará depois da retirada do excesso? Desejo ou vontade de desfecho?

Leo Barbosaa
Enviado por Leo Barbosaa em 17/06/2021
Código do texto: T7280714
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.