LUZES DA RIBALTA

Enquanto eu subia a escada rolante do shopping para ir ao cinema ouvi vozes alegres, risinhos e o alarido próprio de muitas pessoas juntas e se divertindo. Como ainda era cedo, pois gosto de comprar antecipadamente o meu ingresso, estranhei um pouco tamanho movimento e o barulho incomum àquela hora. Ao chegar ao andar do cinema, avistei várias senhoras idosas usando vestimentas iguais e da mesma cor com um pequeno emblema no lado esquerdo da roupa.

Eram elas que demonstravam o contentamento inusitado que me chamara a atenção. Pareciam um bando de crianças no intervalo das aulas no jardim de infância. Duas jovens conversavam com algumas delas, mas não vestiam roupa igual à das idosas.

A quantidade de senhoras falando e rindo ao mesmo tempo beirava duas dezenas. Quando uma das jovens, que provavelmente as guiavam e conduziam, ficou sozinha, aproximei-me dela, cumprimentei e perguntei, gentilmente sorridente, se estava havendo algum evento. Ela, simpática e cordial, respondeu que a instituição da qual elas faziam parte tinha promovido, juntamente com a empresa de cinema, uma manhã com filme grátis para aquele grupo.

Comentei, distraído, sobre a alegria tão verdadeira e espontânea delas capaz até de contagiar quem as olhasse. Foi então que a jovem, os olhos brilhando de emoção, disse: " algumas dessas mulheres assistiram a um filme pela primeira vez hoje." Emudeci.

Agradeci, desejei bom dia e fui comprar meu bilhete, sem conseguir entender por que ainda há tantos brasileiros sem o direito básico e mínimo ao lazer mais simples. Umas daquelas mulheres, de idades já avançadas, poderiam ter passado pela vida sem nunca ter assistido a um filme.

Caminhando na direção da bilheteria arrebatado pela triste emoção causada pela dolorosa verdade que ouvira, retrato do meu Brasil afora, bem sei, mas inaceitável, meu coração em tumulto, não compreendia nem aceitava tanta pobreza e desigualdade social num país rico como o nosso, que arrecada anualmente tantos trilhões em impostos. Sem notar, fui às lagrimas.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 16/06/2021
Reeditado em 24/07/2022
Código do texto: T7280067
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