Avenida Paulista.

Da janela do Hospital Santa Catarina tenho a visão da Avenida Paulista, uma via tão antiga quanto o próprio hospital.

Estou numa ilha em volta por todos os lados de  hospitais por todas as partes. O que me chama atenção é os inúmeros pontos de pouso de helicóptero no topo dos edifício nos arredores da Paulista que de Paraíso deveria chamar-se: "Selva de Pedra", de tantos prédios substitutos dos casarões dos cafeicultores e industriais  que movimentaram a economia nos idos tempos dos bondes, carroças puxadas a mulas e iluminação precária.

Sou do século passado, vivendo a epopeia dos anos de 1900, quando os gatunos respeitavam as mulheres, crianças e idosos.

As chamadas telefônicas eram via telefonistas e a ligações interurbanas tinham que ser agendadas. Eram cabines acústicas para poder gritar até o outro lado da ligação.

Os táxis combinavam as tarifas das corridas antes de partirem para os seus itinerários.

Jornaleiros, carteiros, leiteiros, pandeiros, geleiros e até pastoreio de cabras leiteras, passavam diariamente nas longas calçadas, batendo de porta em porta, entregando seus produtos aos serviçais, mordomos, choufer e damas de companhia. Inacreditável que a volta no tempo possa chegar a saudosas eras priscas, que os jovens de hoje em dia não fazem ideia do que era viver no século passado. Eu não suporto o barulho dos helicópteros mergulhando nesses edifícios; ser atendido por robôs; ter que fazer e-mails para comprar; depender de escadas rolantes e elevadores para ir a onde eu quero ir.

Tenho saudades dos meus bancos de antigamente, que a gente se vestia como quem iria a uma festa. Ir para a cidade na suas matrizes. Era uma aventura descontar um cheque, pagar uma duplicata do que depender destas máquinas que só operam o que está programado e não o que a gente quer.

Aproveitavamos nossas idas a cidade de lotação para fazer compras nos magazines Mappim, Sloper, Mesbla, Cliper. Aproveitavamos para dar uma passadinha na Igreja do nosso Santo onomastico, São Francisco, Santo Antônio,  São Bento, Nossa Senhora do Carmo, de Santa Cecília, da Consolação, da Boa Morte. Aproveitando a estada na cidade, pegava uma matine numa das grandes salas de cinema, assistir Dr. Givago ou Benhur.  De volta pra casa com a missão cumprida, interrompiamos a radiovinte da novela da Rádio Nacional, para conferir as encomendas  e contar como foi o dia excepcional. Éramos felizes conscientemente.

Chico Luz

CHICO LUZ
Enviado por CHICO LUZ em 15/06/2021
Reeditado em 15/06/2021
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