Do lado do correio o muro alto
Ok, meu marido fala que se tem uma pessoa pessimista nessa vida, essa pessoa sou eu. Não que eu seja realmente, é que sou ansiosa e até li aquele livro do Cury sobre "O mal do século" e logo vi que tenho essa síndrome do pensamento acelerado. Meu pensamento é tão rápido que às vezes gaguejo.
Vamos lá: Acordei e fui resolver um assunto técnico do meu tablet que quebrou a tela e eu fiquei enfurecida pois o valor do conserto é maior do que comprei mas não tenho dinheiro pra um novo tablet, tenho no máximo pra esse. Meu tablet branquinho da capa roxa foi entregue e o moço diz que só tem tela preta. Pronto. Calma, eu sou preta. É que tenho um padrão da minha mente, se saí com algo da cor x quero voltar com a mesma coisa consertada com a cor x. Entende? Ok. Volto pra casa fula da vida e me lembro que tenho que aproveitar minha saída semanal e finalmente ir na lojinha de bugigangas da esquina.
Nisso, passo numa construção que parece a que está tendo do lado da minha casa e o gatilho tá mais que pronto: Fecharam o corredor da casa. Não entra sol, vento, vontade de viver... Nada. Minha respiração fica ofegante e num súbito penso em ligar pro meu marido e dizer que nosso apartamento já está à venda no ZAP. Não posso ficar mais enclausurada que estou e se tirarem o pouco que me resta de luz, eu morro. Aí a avalanche começa: E se os novos vizinhos forem barulhentos? Se tiverem bichos que irão devorar minha orquídea seca? E se tamparem o muro e aí esse prédio novo cai igual o de Mauá? Quando me vejo estou atravessando a rua sem olhar pros lados. Perigo.
Quando chego na loja, o vendedor (coitado) tenta vender tudo que há de possível e eu entendo o lado dele mas a minha vontade é de dizer: "Moço, no momento nem um local decente para morar eu tenho, daqui a pouco vão fechar minha única entrada de luz e morarei na escuridão eterna e vou definhar eu e minha orquídea." Respiro, compro minhas suculentas artificiais e volto pra casa tonta de tanta ansiedade.
Ao chegar em casa, choro. Não, minha crise de loucura não parou. Minha vontade é de ligar pra terapeuta e fazer uma sessão mais que extraordinária pois nada está no lugar.
Ligo o PC e aqui estou escrevendo tudo isso como uma forma de vomitar toda essa ansiedade. Ainda to chateada pelo tablet, não sei o que será da minha orquídea e do muro da minha casa que roubará toda minha luz, tanto da rua quanto de mim.