O LEITEIRO
FRAGMENTOS
O Leiteiro
De sobretudo cinza e chapéu de palha ele vai suprindo os coxos ao redor do estábulo.
Na manhã gelada, uma fina camada de organza sobe da sanga elevando-se como a suplicar um abraço do céu que azula-se em plenitude.
Os primeiros raios de sol encontraram um quero quero disperso do bando, solitário e pensativo sobre um velho tronco abatido.
E o senhor de sobretudo cinza ,direciona-se à porteira.
Os passos são lentos, cansados.Parecem sentir o peso das botas que o calçam.
Ele tosse com uma certa frequência, vez e outra esfrega as mãos para aquece-las.
No capão de mato, um coral afinado lhe responde em ecos os chamados feitos ao gado.
Bando de pombos ziguezagueando sobre o paiol desengonçado risca em giz a manhã azul.
O leiteiro sobe na porteira e as primeiras vaquinhas,obedientes a seu chamado, vão pisando a grama crespa de gelo a caminho da ordenha.
Seu olhar agora se divide entre o balé da revoada e a fila indiana rumo à porteira.
Não muito distante, a casa onde mora lembra uma dália em cores berrantes imersa na vastidão do potreiro.
A chaminé envia-lhe recados de café quentinho, aconchego, calor humano recheando os aposentos que lhe aguardam.
Berram os bezerros num choro adulado.Mugem carinhosas as vacas orgulhosas das crias.
Em passos lentos ele – o homem do sobretudo cinza – retoma o caminho do estábulo.
Um balde amarelo numa das mãos, vai e vem como que fora um sino emborcado.
Tange-lhe, por certo, em seu templo interior o prazer pelo trabalho.
Assim começa mais um dia nestes ares do Sul.
Na rodovia movimentada, as vidas correm tresloucadas sobre quatro rodas sem dar-se um tempo para...
Espiar a poesia dos estábulos .