MEMÓRIA DOS ANOS

MEMÓRIA DOS ANOS

Recordações; lembranças perseverantes. Ah, quanto é bom olhar as nossas vivências. O passado passa a ser uma ironia, porque, queiramos ou não, ele nos remete ao presente-futuro. Só é livre quem não está no tempo – Clarice Lispector sabia disso: “Experimento viver sem passado, sem presente e sem futuro e eis-me aqui livre”.

Não há como negar; o passado é sequestrador – nos rapta. Não quero ser visto como saudosista com tal afirmação. Mas os cheiros, os gostos, as imagens... ficam impregnadas na nossa “memória afetiva”. Lemos o mundo através dos conhecimentos prévios.

A infância é o campo mais fértil: o cheiro das matas, do mar, do fogão à lenha. É daí que surgem os melhores perfumes.

A vida é cíclica, por isso que soluções velhas são utilizadas para velhos problemas.

Sabedoria consiste em apurar os sabores, portanto sábio é aquele que tira o melhor sabor das reminiscências.

Qual é a força que rege essa cronologia? – o homem reagindo com choro pelas mesmas causas de quando menino? Silêncios. Respostas?

Sempre gostei de pessoas mais velhas, elas nos propõem um banquete – mesas fartas com frutos de várias estações. A velhice bem administrada é aquela na qual estamos constantemente repondo as refeições, trocando as toalhas. É fase de resenhas não limitadas.

Presencio pessoas de idades diversas lastimando: “No MEU TEMPO era diferente”. É realmente lamentável, pois não souberam caminhar e ficaram presas. Estacionaram. O momento é agora, hoje!

Idade não se resume à quantidade de aniversários. Fases existem para terem continuidade, portanto, digo: tua terceira idade pode ter muitas vidas.

O tempo e suas cirandas. Anfitrião que nos convida ao específico. A ação de um adulto deve ser dissociada de uma criança, senão cai no ridículo. Entendam: uma coisa é no particular; a mesma, publicamente, pode constranger. Tempo do tempo.

Às vezes passamos longos períodos sem abrir o nosso baú de vivências. A chave já corroída, tememos quebrá-la, então não relemos a nossa história. Desconsideramos o valor da subjetividade. Vamos investigar outros cômodos. O problema é que ficamos tão acomodados... os nossos troféus vão se empoeirando na estante; essa experiência de viver é instantânea. Nem ao menos tivemos o trabalho de nos aliar ao Cronos.

Amadurecer é distinguir a alma do corpo. É saber colher os cachos de sapiência na hora certa – antes eram torturas. De repente tive que amanhecer antecipadamente, o gorjeio dos pássaros deu-me uma vontade de namorar...

Leo Barbosaa
Enviado por Leo Barbosaa em 14/06/2021
Código do texto: T7278901
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.