MEU DIA DOS NAMORADOS

Um dia a mais no calendário da minha existência? Quisera eu, mas essa data, especialmente porque parece que só eu estou “sozinha”, me faz remexer gavetas da memória, nas quais se eternizaram algumas vivências que eu preferia apagar num passe de mágica. As marcas que carrego talvez legitimem minha condição. Relacionamentos abusivos sem que eu me desse conta; romantismo exagerado, quando eu me permitia a insanidade de amar pelos dois, fazendo do outro a minha razão de viver; carência; crises existenciais, atribuindo ao outro a responsabilidade de me fazer feliz (missão impossível, né?).

Meu histórico de relacionamentos afetivos é traumático, por razões várias, e daria enredo para um romance. Hoje, já consigo enxergar muita coisa. Mesmo assim, a culpa, a danada da culpa, ainda me persegue. Estou sempre me responsabilizando pelo que deu errado, inclusive pelo amor que enterrei, literal e involuntariamente, naquele fatídico junho de 2017. Outros tantos enterrei, ainda que simbolicamente, mas os fantasmas não saem daqui. Vivo de sombras desse meu passado insistente. E dessa falta que não sou capaz de expressar com palavras.

Até inventei personagens para compor meu conto de fadas, para viver a história de amor que eu queria, mas não funcionou. Nunca funcionaria! Régi me disse, certa vez, que eu tinha “síndrome de princesa”. Não sei onde viu isso, mas tudo que me falou fez sentido. Disse-me, entre outras coisas, que eu, romântica e sonhadora, tinha necessidade de esperar pelo príncipe encantado.

É, eu gosto mesmo é da euforia do começo, do encantamento, da conquista. E os amores, pelo menos os meus, sempre foram reais. Talvez isso explique o fato de eu estar só e de, ano a ano, celebrar o “meu” Dia dos Namorados e nunca o “nosso”.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 12/06/2021
Código do texto: T7277229
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