O tempo ideal para preencher nosso “livro de realizações”
Publicado no jornal Diário Popular de 11/06/2021 (pág. 06) - Pelotas/RS
Quem assistiu às dez temporadas de “Friends” e já cansou de rever seus 236 episódios tem uma opção de comédia em “Como Eu Conheci Sua Mãe” - “How I Met Your Mother”, ou HIMYM, para os fãs. Com início em 2006, um ano depois do término de Friends, a série também se passa em Nova York e conta as histórias de um grupo de cinco amigos, daqueles que não batem na porta para entrar nas casas uns dos outros. Tudo com uma mistura de humor, romance, drama, altos e baixos na profissão e nos relacionamentos típicos de quem está na faixa dos 30 anos.
Em um episódio da sexta temporada, o casal Lily e Marshall passa por uma importante conquista. Passados alguns segundos de euforia pela novidade dos amigos, o restante da turma logo começa a ficar um pouco deprimido e a se perguntar o que está fazendo da vida: como poderiam alcançar o patamar daqueles amigos e também realizar um sonho que dê sentido à própria existência.
O protagonista Ted parece mais egocêntrico ou mais sincero ao pensar alto: “Quando nossos amigos têm uma boa notícia, ficamos felizes por eles... por um milésimo de segundo. E aí, começamos a pensar em nós mesmos”?
Um acontecimento na vida de amigos próximos é capaz de causar efeitos profundos, especialmente se tal feito faz parte do “livro de realizações” que teoricamente o mundo espera de nós. O bom desempenho dos outros pode ser uma frustração para quem acha que a grama do vizinho sempre é mais verde ou pode servir de estímulo para ir em busca de algum desejo que estava abandonado.
Existe prazo e hora certa para atingir nossos propósitos de vida? Tenho um grupo de amigas que costuma lembrar dos tempos de infância e das brincadeiras em que tínhamos de preencher com qual idade achávamos que já estaríamos casadas (os outros itens incluíam o nome do futuro marido, número de filhos, profissão...). Anos depois, ríamos muito ao lembrar que apostávamos que seria com 18 anos! Nessa idade, havíamos recém começado a graduação, e já ficaríamos suficientemente felizes simplesmente em estarmos certas sobre nossa escolha profissional... Ah!, crianças e sua peculiar e inocente noção de tempo e prioridades...
Será mesmo que as pessoas esperam algo de nós? Ou, no fim do dia, depois daquele encontro em que todos contaram algo incrível, e a gente ficou quieta e saiu se sentindo pra baixo, todos voltaram a pensar em si mesmos e no que ainda falta realizar? Na série HIMYM, o que os amigos desiludidos não sabem é que o casal que aparentemente vive o auge da felicidade está aterrorizado com a novidade.
Não estou dizendo que a família e os amigos não esperem e torçam para que alcancemos nossos objetivos o quanto antes. Mas, para que tudo flua, é melhor não fazer comparações, nem se preocupar com o que os outros vão pensar. Parece que cada vez mais gente entende que cada pessoa tem sua própria receita de bolo e o tempo ideal de forno para assá-lo sem queimar.