AS Coisas Importantes

Importante é a esperança. Importante é o amor. Importante, diria o homem sedento, é achar água. Importante, em algum momento de nossas vidas, é a poesia. Tenho dela algumas joias guardadas no espírito. Evoco o poema de Eugénio de Andrade “ A uma cerejeira em flor”e recordo que aprendi com ele a sentir, fibra a fibra, o tempo a construir o coração de uma cereja. Um dia, há muitos anos, queimei me nas palavras de Maria Teresa Horta: “ Não contes do meu vestido/que tiro pela cabeça…” e todo o clima de sensualidade e prazer enchia a minha pele depois de acender-me a alma. Poderia referir dezenas de outros poetas que iluminam a minha vida mas seria abusivo forçar-vos a saber a minha escolha em detrimento da que, por certo, os leitores guardaram como luzeiro. Quantos de nós se arrependem do caminho, das escolhas, da inevitabilidade do que foram forçados a viver. Foram? Em algum dia passado apareceu, mínima, uma semente de rebeldia. Deixei a que me coube viva, resguardada e nunca a açaimei para que não mordesse. Disse tudo o que me veio como arma e pude defender o meu fogo. No fim da luta havia apenas uma brasa oculta, um resto de voz, um não, tímido, que fiz crescer até arder todo como um fogo alto e respeitável, renascido, livre que quantas peias me quiseram diminuir e travar. Muitos mataram a rebeldia à nascença e deram consigo de grilhetas. Outros pediram apenas um tempo à liberdade.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 11/06/2021
Reeditado em 11/06/2021
Código do texto: T7276199
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