O TEMPO (IN)VERSO
O TEMPO (IN)VERSO
O tempo incide na materialidade do que busco. Preciso racionar a tensão incitada pelos ponteiros. A avidez não deve se tornar sinônimo de desespero. É o embate constante entre o que fiz e aquilo que ainda quero fazer. Sei que posso.
Não quero a pressa tomando o meu romantismo. É tão danoso viver na superfície rasa dos meus desejos tanto quanto é se afundar neles. É a vontade constante de parar na fantasia e parar a fantasia. Vestir estes trajes tão diversos de um carnaval contrastado com as minhas misérias.
Deslocado. Necessitado de aprender o já sabido. Pôr os móveis do meu espírito no lugar certo. Racionalizar o que de mim não é meu. Poemas abortados. Quero ter a calma de esperar para ter mais tempo. Quero que meu interior se exteriorize. E quero ser de um tempo sem cronologia. Quero me compreender sem o auxílio das palavras. Às vezes, fala-se demais para que o silêncio não revele o essencial. Por isso, vez em quando, calo-me. Prefiro silenciar a proferir o infértil. O putrefato e o fecundo estão em nós.
Faço constantemente cultos para o que há de oculto em mim, reconheço. É natural nós valorizarmos o desconhecido e, por vezes, esquecermos aquilo já evidenciado e aprovado. E, no ímpeto de adiarmos a luta, nos fragilizamos mais.
“A satisfação no amor individual não pode ser atingida... sem a humildade, a coragem, a fé e a disciplina verdadeiras”, afirma Erich Fromm.
Amor não é prontidão, embora os amantes se prontifiquem. O amor precisa reconhecer o que há de mais precário e, a partir daí, buscar o êxito ou se enfraquecer. Amar causa temor porque somos vulneráveis demais a fatores externos. O amor deve ser perpétuo, mas, jamais, estar associado à ideia de prisão.
O tempo aplaca o corpo, a memória. Entretanto, o coração se conserva quando não nos fazemos de fortes para nos mostrarmos superiores. Coração é músculo que precisa ser exercitado. Caiamos. Levantemos.
E que saibam: o meu desejo de ser melhor não se traduz em reduzir os outros. Respeito a fraqueza tanto quanto admiro a força. Estou em ambas, ou melhor, as duas se encontram em mim. E não faço esse discurso por vaidade – é o que preciso ouvir.
Se eu não conseguir viver todos os princípios de uma filosofia que julgo ter, isso não é o fim. Apenas quero viver bem o presente e ser embalado pelo futuro. Assim sou. E meu relógio é o sol.