Das Minhas Lembranças 4

Toda ação gera consequências. Para a oposição sindical metalúrgica de BH e Contagem conquistar o sindicato, precisamos ter um olhar sobre o que aconteceu lá atrás. Desde 1976 muitos companheiros se organizavam dentro das fábricas. Eu me lembro bem da primeira reunião que participei. Estavam presentes alguns militantes dos anos 60: Seu Joaquim Oliveira, Milton Freitas, Efigênia, e os novos militantes, Ignácio Hernandez, Ademir, Berzé, Maria Antonieta e eu. Maria nem tão novata assim. Depois nos transferimos para outro logradouro na Vila São Paulo.

A mobilização da campanha salarial de 1979 foi por fábrica. O dissídio era em outubro, porém, entre março ou abril, creio, houve a mobilização antecipada. A Belgo-Mineira foi a primeira. Em seguida a Mannesman e assim por diante. A ideia era começar pelas fábricas maiores. Na Belgo a gente já tinha construído, na prática, a comissão de fábrica. Estávamos relativamente organizados. A diretoria pelega, tendo à frente o presidente João Silveira, topou, apostando no fracasso. Como não confiávamos nos dirigentes interventores, imprimimos nosso boletim. Rui Barbosa e Seu Raimundo, que representavam o chão da fábrica, encarregaram de fazer o contato com os demais companheiros. Assim os panfletos foram colocados no interior da fábrica, pendurados nos banheiros e em outros pontos, inclusive no relógio de ponto. Bingo. Pela primeira vez, desde as greves de 1968, o sindicato lotou. Revezamos no microfone, com palavras de ordem. A que proferi: "os patrões só entendem uma linguagem, máquinas paradas" foi reproduzida no jornal Companheiro. A pauta de reivindicações era: 20% de aumento; prêmio de retorno de férias equivalente ao da filial de João Monlevade e folga aos sábados para o pessoal da manutenção. Foram três assembleias, para que os trabalhadores dos três turnos participassem. Zé Raimundo, o Vermelho, Ildeu, secretário do sindicato discursaram denunciando o nosso boletim apócrifo. O Sindicato também imprimiu e distribuiu a convocação, com muitos de nós ali, juntos, na cola. Eliana colocou um véu na cabeça e participou da distribuição do material do Sindicato.

Não houve greve, pois a patronal atendeu as nossas reivindicações e um pouco mais. Em vez de 20%, um valor em espécie, que ultrapassou os 20%, para os de salário mais baixo e em torno de 10% para os de salários mais alto.

E quais seriam as consequências da vitória dos trabalhadores da Belgo? A greve da Mannesman, que se negava atender as reivindicações e que duraria oito dias, projetando o Albênzio, mais conhecido por Boné. A principal palavra de ordem nas assembleias da Mannesman era: "Se a Belgo deu, a Mannesman tem que dá!".

Depois viriam as outras fábricas.