GRANDES POETAS NÃO DÃO EM ÁRVORES
Grandes poetas não dão em árvores
Marília L. Paixão
A verdade é que o poeta esconde o que mais vive: a dor. Em sua fuga do dia-a-dia, acaba enfeitando a realidade. Colore a dor com cores lindas e esquece que a magia da escrita em proliferar sentimentos está em seu estado cru. Deve ser por isso que poesia pouco vende. Já se espera da poesia a ilusão e beleza que o poeta descreve bem. Assim sendo, quem não quer lamentos amorosos ou desilusões passageiras prefere ler outra coisa. Imaginam que todo poeta é sonhador e que seus versos só falam de amor, estrela e sol brilhando, ou então, de flores sorrindo na mão de um menino. Tudo com rima. Tudo combina. Falta pouco para adivinhar uma poesia a começar pelo seu título. Mas eu como não entendo da poesia dos outros, não vou falar nada. Também não quero falar da minha. Estou em processo de ensaio com o que escrevo e rasgo. Rasgo na maioria das vezes dentro de mim. Depois de rasgado tento ventilar para fora. Às vezes, me sinto uma pá cheia de cimento procurando a parede e acho o papel. Eu não preciso perguntar ao papel se ele está a fim das minhas letras, das minhas areias, da minha massa de cimento. Se a massa está muito dura, se poderia ter mais água, se há água... E a água, se tiver que ser lágrima, será. Se tiver que ser riso, será. Se tiver que doer, doerá, se tiver que rasgar o papel, rasgará. Acho que o que falta na poesia é o inesperado. E o inesperado não tem receita. Posso estar certa, posso estar errada, posso estar nada. De qualquer forma, não abro mão da minha água, da minha areia e nem do meu cimento.