VINHO É VIDA

Quando é a hora de parar e a pessoa não percebe, vai repetindo a dose até ficar feio. Na verdade, estava feio desde o início, mas a coisa vai degringolando até não ter mais como alguém ajudar a contornar o problema. Aqui em Minas, algumas pessoas falam que a coisa vai caindo “pirambeira” abaixo até “esborrachar tudo”. Traduzindo: a coisa vai descendo de nível, na escala da falta de bom senso, até chegar num nível tão baixo que não terá como se recuperar naquele assunto. Tive propensão de falar de política, mas vou continuar mantendo minha opinião entre meus amigos mais chegados, não em público. Porque tenho responsabilidade e não vou me furtar desse domínio. Mas posso dizer o que penso sobre algumas pessoas próximas a mim que não param de tentar esgotar a paciência falando sobre política partidária, olho para a pessoa e falo “Sério mesmo que vai ser só esse assunto?” e a pessoa resolve ir plantar seus ventos em outra freguesia. Por mim, tudo bem, gosto de tempos frios, mas não gosto de tempestades.

Por falar em tempos frios… não gosto muito de dias chuvosos; gosto de dias frios, mas chuvosos não me apetecem. Gosto das noites de tempo frio, acho um charme as pessoas saindo às ruas com roupas elegantes e perfumes agradáveis, para passear por lugares que se tornam especiais em tempos frios, as tardes de temperaturas baixas reproduzem na imaginação, os ambientes londrinos dos filmes de Jane Austin (assistam aos filmes “Orgulho e Preconceito” e “Amor e Inocência”, depois de pararem de chorar, digam nos comentários o que acharam), o chá, as mulheres em roupas de cor forte, os homens decididos a chegarem a qualquer conclusão, independente de bom ou mal caráter… Os dias frios são propícios a um vinho mais encorpado, um Malbec ou um Tannat; se preferir algo mais comum, sugiro um Cabernet Sauvignon chileno, a gente nunca erra. Opa, estamos falando de dias frios ou de vinhos? Eu não sou capaz de falar sobre vinhos com propriedade de profundo conhecedor, na verdade, sou mero apreciador, então voltemos a falar de tempos frios, mas acho que vinho é vida.

Imagine-se ao lado da pessoa amada numa noite fria, degustando um vinho e saboreando um fondue! Imagine-se num bangalô ao lado de uma lagoa ouvindo somente o barulho dos bichos (pernilongo é inseto, não conta), e o clima de sedução envolvendo tudo… Agora imagina isso num dia quente! Nem vou falar de coisa de trinta e cinco graus pra cima, não, vamos ficar nos vinte e nove graus pra não sofrer demais. Aí sim os insetos virão festejar a visita ilustre dos humanos queridos (risos altos enquanto o teclado também faz barulho). Ficar o tempo todo dentro da hospedagem é o pior que se possa querer nessas horas. A lua convidando para o namoro e os insetos agradecendo ao Papai do Céu pelo jantar fresco: carne humana regada ao vinho.

Hora de parar! Já percebi. Quarentena faz isso com a gente, ficar falando de coisas triviais para não enlouquecer. Chega de política, chega de OMS, chega de coisas muito sérias, quero mesmo é falar de vinhos, fondues e Jane Austin. Aliás, as lives estão aí para não te deixar esquecer que aliviar a tensão é preciso. Chega de falar do mesmo assunto, né? Redes sociais, telejornais, pandemias, idolatrias… Acho que vou escrever sobre homem ou mulher alfa, um assunto melhorzinho…. Aguardem. Por enquanto vou ficar engordando aqui, no meu isolamento social, e tentando fugir das brigas nas redes sociais, porque, outro round, ninguém merece, eu sei a hora de parar e não vou cair pirambeira abaixo nesse tópico.

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Publicado originalmente em Jornal Cultural ROL, Minas Gerais, em 05 de junho de 2021, às 14:04.

SIUVES, Paulo. Vinho é Vida. Jornal Cultural ROL [Minas Gerais], 05/06/2021 14:04. Disponível em: <https://www.jornalrol.com.br/paulo-siuves-vinho-e-vida/>. Acesso em: 01 jun. 2021.

Paulo Siuves
Enviado por Paulo Siuves em 07/06/2021
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