O CICLO DA VIDA
O tempo está passando cada vez mais rápido, já estamos perto do meio do ano. E tudo continua a mesma coisa, nada mudou e não parece querer mudar. Muitas pessoas importantes se foram, vitimadas pela COVID-19. Carrasco vírus impiedoso. Todos nós temos uma história para contar, de um alguém querido que perdeu a guerra nesta batalha tão desigual. Entre os milhões que foram contaminados, também faço parte. Pela misericórdia divina ainda estou por aqui.
Não vivemos em um mar de rosas, o mundo não está sendo melhor com ninguém. Que as gerações futuras, ao lerem essa crônica, saibam que estamos atravessando um momento único em nossa história. Depois de duas guerras, diferenças religiosas e culturais, guerras civis, enfim, de tanto que foi feito, ninguém conseguiu silenciar com tanta brutalidade a voz do mundo. Os nossos carros ficaram em silêncio, assim como as nossas ruas, empresas, bares, igrejas, lojas... A terra parou, de repente, ajoelhando-se diante de um invisível e minúsculo vírus. Esse pequeno e aplicado inimigo tirou-nos a única coisa que riqueza nenhuma no mundo pode comprar.
Sabem o que eu desejaria de verdade... Por um único momento. Nada de pandemia... Não...
Eu desejaria muito ter um dia tranquilo, sem nenhuma responsabilidade, com nada, com ninguém, apenas isso, um dia tranquilo e nada mais. Poder sentar e coçar o dia todo, comer o que me der na telha, assistir programas chatos na televisão sem ser interrompido, e novamente comer uma infinidade de besteiras até a barriga doer. Apenas isso… É claro que este pensamento, este insano desejo, não passa de um sonho qualquer, desses que sonhamos de 'barriga cheia', - bem cheia por sinal - como se diz por aí.
Eu desejaria muito ter, e ser, mas, ao contrário disso, apenas faço nada ter, e cumpro sem questionar, pois não faz diferença o meu 'ser'. Essa é minha vida, este sou eu… Cumpridor da agenda estabelecida, seguindo as regras.
Talvez um dia que sabe, tudo passe, e sei que vai passar. Lá na frente, no futuro, toda essa dor vai ser lembrança em uma tela de computador.
Os governantes de nossa nação não se entendem, digladiam-se exaustivamente até que o mais fraco sucumba. E os pobres assistem sem nada poderem questionar.
O tempo passa, sopra suave como a brisa das manhãs em nossas nucas. Sentimos apenas um leve arrepio, é isso e nada mais. Que o relógio corra velozmente em busca de mais tempo, e que o tempo corra ainda mais veloz para não ser roubado novamente. Eu e você sabemos que tudo nesta terra, de certo modo, é inútil. Nascemos, vivemos , morremos. É o ciclo da vida impondo suas regras. E neste momento de filosofia e reflexão, me entrego ao sofá, nada posso contra os seus braços fortes, e como tiro de misericórdia, sou vencido pelo sono.