DISTÂNCIAS INAUGURADAS

DISTÂNCIAS INAUGURADAS

As distâncias foram inauguradas. Segundo a velocidade, a vivência, a profundidade. Essa experiência talvez tenha sido a representação do meu avesso. A vida com seus imprevistos parece não me espantar. Todos nossos planos são superficiais diante da vida. Começamos a segunda-feira como se fosse um pequeno réveillon. Quando estamos no sábado, planejamos o próximo dia útil. Existem dias inúteis? Há algum espaço de tempo em que nem a inércia possa ter proveito? É impossível mensurar as possibilidades da vida. “A angústia nasce das possibilidades”, diria o filósofo francês Sartre.

O que nos importa mais – a durabilidade do gozo ou a intensidade? Dia a dia preenchemos o casulo e o rompemos. Envoltos num musgo chamado ego que ecoa nas asas – manobra para não nos mostrarmos incapazes de estar presentes em tempo uno, o agora. O tempo não nos aceita ou somos nós que não o aceitamos?

Estamos a toda hora em um ser ou não ser. Ter ou não ter. Por vezes, a espera opera mais que a ação. Há mais equívocos nos impulsos do que nas esperas. Contritos na busca de uma resolução, em busca do gongo. Assim, vamos perdendo a capacidade de ouvir a música de fundo.

No mínimo está o máximo. No máximo está o mínimo. Precisamos de uma concentração tamanha para tocar aquilo que jamais alcançaremos como um todo – a grandeza de uma alma, de um gesto aparentemente incoerente de qualquer humano.

Não pense que tudo que é feio e ordinário terminará dessa forma. Às vezes, muitas vezes, esses eventos são de fatos tão irrisórios. Fatalmente caímos na ilusão de que tal momento seja permanente. É natural querer dispensar uma ocasião na qual arestas se impõem para “retirar” a beleza buscada no momento. Deslocamento. Desconexos estaremos, se em tais situações virmos apenas como uma decepção/desilusão, em vez de uma oportunidade de nos “metamoforsearmos” em seres mais belos.

Ah, contamos os anos e fazemos recortes – deve ser para criar uma falsa ideia de que o passado passou, mas, embora não assumamos isso, tudo continua entrelaçado – os pontos de partidas e chegadas ainda persistem. Claro – eles são mutáveis em alguns traços, entretanto o elo não desatou nem desatará.

Os acidentais da vida estão sempre nos pondo à prova. Elevar as coisas ao essencial demanda muito esforço. Não devemos nos retardar e ser menos do que podemos ser. A transitoriedade abarca todo o ser. Ser todo está fora dos nossos limites, mas sempre que possível é preciso transgredir e participar de significados maiores que nós mesmos.

Somos contemporâneos de um amanhã e de um ontem enquanto o desejo de sermos eternos em nós persistir. Tal afirmação pode ser confirmada porque ninguém quer envelhecer, perder o vigor. Qual é a idade em que nos admiramos o suficiente? Cada fase tem seus dissabores. Estamos sempre aquém e/ou além. Aqui e ali. Lá e cá. As distâncias estão inauguradas. Levanta-te e anda.

Leo Barbosaa
Enviado por Leo Barbosaa em 06/06/2021
Reeditado em 06/06/2021
Código do texto: T7272527
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