Um ensaio sobre tempo e ilusão
Aqui estou com esse lápis de olho já apagado que já nem sei quando foi a última vez que usei. Na longa espera(nça) pelo dia em que a máscara mais usada será esta aí, a de cílios. Vai ver é por isso que coloquei ela hoje pra ir à padaria comprar o máximo de pães que, penso eu, estarão comestíveis até segunda-feira, quando termina o lockdown. Certamente até lá eles serão torrados, não há pão de padaria que resista a virar borracha por muitos dias.
Alguns dizem que o único tempo que realmente importa é o presente, e Einstein disse que passado, presente e futuro são apenas ilusões. O tempo ainda é um enigma e tema de discussão entre físicos e filósofos, então não serei eu a desvendá-lo, enquanto tiro a maquiagem.
Fato é que muitas vezes olho pro agora e vejo o passado recente que esteve aqui. Olho a escada do prédio e me vejo descendo-a de segunda a sexta pra ir trabalhar. Olho pro espelho e me vejo me maquiando pra ir a um barzinho. Olho pra praia ensolarada e me vejo sentada numa toalha rodeada de amigas tomando mate.
Se só o presente importa, como teria sido sobreviver a essa sequência de "presentes" tão limitantes que a humanidade está vivendo no último ano? Ainda bem que, embora não sejam palpáveis, o passado existe em forma de memórias, e o futuro, em forma de sonhos. Sorte que gosto de ilusões.