De-coração
A verdade é que o amor nunca foi pra mim, e talvez nunca há de ser.
A própria cartomante disse. Não com essas palavras, mas de um modo bem sutil que beira o eufemismo:
“Vejo seus caminhos todos abertos!” - disse enquanto embaralhava as cartas.
E a cada jogada no lado do relacionamento ela fazia uma expressão facial negativa diferente.
Por fim, tive minhas respostas.
Ao menos, não crio expectativas quanto a isso.
Agora, beirando meus trinta anos cheguei a conclusão de que a vida se resume a coisas simples: comprar móveis estofados, trabalhar, se alimentar direito e procurar se exercitar.
Mas a vida é tediosa – isso é, se realmente for isso.
Porque eu sinceramente não consegui encontrar um lugar ou um sentido pra esse Vaudeville que a vida é.
Eu vi meus sonhos morrerem. E eu não pude fazer nada.
E esse sentimento de impotência me fode.
A impotência do homem e das coisas em relação a vida é absurda. Quando a gente menos espera é atropelado por coisas e situações que tiram nosso chão.
Passei noite no relento, e só queria o teu abraço pra ser minha casa.
Conclusão: aprendi a ser meu lar, e subi paredes de aço com cacos de vidro a fim de manter a essência da classe operária.
Hoje a gente aprendeu a ser vazio, e a conviver com isso. Com essa sensação de perda.
É como um parente bêbado: A gente nunca comenta… Mas ele sempre anda aprontando das suas.
Mas, e quem sou eu para falar mal da minha classe?
Aprendi a ser mais bêbado depois que fiquei sozinho. Amortece as porradas que a vida dá, e ajuda a lidar com a rotina.
Por um tempo, eu confesso que andei bebendo quantidades de álcool que deixariam qualquer dono de posto de gasolina tendo sonhos eróticos por semanas. Aquilo tava acabando comigo e resolvi diminuir.
Água demais mata a planta.
Acho que esse tipo de visão fatalista da vida ajuda a gente de certo modo.
Ao menos a gente deixa de criar esperanças e acreditar nas pessoas, e simplesmente segue como um boi indo ao caminho do abate.
A vida é isso.
O que a gente faz pelo caminho é decoração.