Os últimos presentes do vovô
Hoje faz um mês que eu e minha família vivemos o pesadelo da ausência de nosso amado herói. Cada dia tem intensificado mais a dor da saudade. Parece uma ferida no auge da inflamação , que é esbarrada a todo instante , através de recordações, lembranças involuntárias...
Cinco dias antes de sua partida, fomos à Catalão visitá-lo, era uma quinta- feira, da qual jamais me esquecerei, foi a última vez que os meus olhos o viram. Quando estávamos vindo embora, minha filha o ofereceu de presente um aviãozinho de papel , que o pai dela havia feito ,e disse que o deixaria com ele ,para que ele se lembrasse dela. Naquele momento , mesmo sem nada entender ,senti uma sensação estranha , um aperto no coração, como sentindo que aquele presente poderia ser simbólico e representar que ele faria a mais temida viagem : para a eternidade, imediatamente , desviei aquele pensamento, acreditando ser fantasia da minha mente totalmente abalada!! Quem me dera fosse!! Realmente a viagem foi feita. Ele sempre falava que gostaria que essa viagem fosse feita em caravana, mas infelizmente foi feita de forma individual ,e nos deixou aqui à mercê dessa dor ,quase insuportável!!
No sábado , três dias antes de sua partida, foi o seu aniversário, dia que completou os seus 72 anos, mais uma vez minha filha quis presenteá-lo. Ela mesma desenhou um lindo dinossauro em uma folha de papel, e disse que aquele seria o presente do vovô e que certamente ele ficaria muito feliz. Mais uma vez senti a mesma sensação estranha, que aquele presente seria simbólico, ou seja ,ele deixaria de existir em forma física ,mas como os dinossauros , mesmo não existindo há tantos anos, continuam sendo admirados, amados, encantados por milhares de crianças, alvo da curiosidade e estudo de tantos!!
Anteontem pedi a minha filha para ligar para o vovô, mas me referia ao avô paterno, ela pensou que fosse com ele e deu um salto , com uma alegria contagiante e disse: "__ Não acredito, ele consegue me ouvir de onde está??" Foi uma das respostas mais difíceis que tive que dar à minha filha, desmoronar seu castelo de fantasia do " tudo é possível". Com muita dor ,respondi que era do outro vovô que estava falando. Ela me olhou meio sem graça e disse: Bem que pensei que era impossível!!
E assim vamos nós, seguindo um passo de cada vez, com um vazio, uma dor, uma saudade dilacerante, e uma estranha sensação de fantasia de que tudo não passou de um pesadelo e qualquer hora o veremos chegar de novo!!
Eh, meu velho guerreiro , eternamente te amaremos. Tá muito difícil aqui….