A força da fé

Um legado essencial para nossa vida espiritual, que acompanha o homem em toda a história da salvação, é a FÉ. Essa palavrinha, tão reduzida, se agiganta para além da nossa capacidade de percepção. Como entender a crença dos que vivem sem nenhuma assistência e ainda louvam a Deus, confiam em sua misericórdia, esperam dias melhores? Como interpretar a fé daqueles que não sabem de onde virá o sustento para o dia seguinte? Como compreender a confiança que alimentou a vida de mulheres como minha mãe: família numerosa e recursos ínfimos? Na extrema pobreza, faltava tudo, menos a esperança e, acima de tudo, a confiança na bondade do Pai. Minha mãe, em cada dificuldade, que foram tantas, repetia a frase: “De hora em hora, Deus dá a melhora.” E assim confiava, embora essa melhora, na maioria das vezes, fosse apenas melhora da esperança e crescimento da fé. As dificuldades se sucediam, mas Deus vinha à frente de qualquer problema. Ela nunca se deixou abater, nunca blasfemou, nunca perdeu a fé. E conservou içada a bandeira que marcou seu viver: a coragem de lutar.

Essa certeza de que nunca estamos desamparados dá razão de ser à existência de todo homem temente a Deus. A fé proporciona alegria para os momentos de euforia; combustível para as horas de dificuldade e incerteza; alento para os instantes de tristeza e dor. Dia após dia.

É a fé também que me leva a voltar o pensamento para Deus e me dedicar a escrever esta crônica, mesmo com a limitação dos movimentos por causa de uma queda que resultou em um ombro quebrado e o braço direito imobilizado. Apenas com a mão esquerda, as palavras demoram a se formar frente aos meus olhos. Mas a certeza da presença de Deus me motiva a continuar digitando, letra por letra, até tornar-se palpável o pensamento que o Espírito vai suscitando. Não é um trabalho fácil. Às vezes a ansiedade, por causa da demora, provoca certo desconforto. A fé, no entanto, é persistente: uma paradinha para um copo d’água, uma oração e o recomeço. As palavras, uma a uma, vão fazendo sentido, e o texto começa a ganhar forma. E vem a gratidão a Deus pela graça recebida.

Perseverança

Nessa história de confiança em Deus, não basta acreditar apenas em alguns momentos. É preciso perseverar na fé. É ela que nos dá suporte para ultrapassar obstáculos – ou conviver com eles – sem nos esquecermos de que Deus nos acompanha sempre, mesmo nas horas mais difíceis. Algumas vezes, vemos algumas pessoas desanimando no meio do caminho, quando as barreiras da vida se mostram mais altas do que o esperado. Sucumbem ao medo, à desesperança, à descrença. E, não raro, perdem o rumo e não conseguem mais encontrar o caminho de volta. Esquecem a fé. Mas se duvido, é porque não tenho constância naquilo em que acredito. Se creio, levo essa crença para todo o sempre.

Para nos mantermos nos caminhos retos, muito nos valem os exemplos. E são muitos. Gosto de observar o povo de Deus e as pistas que vão deixando para os irmãos de caminhada. Ultimamente, observo uma senhorinha. Com os cabelos brancos e passos morosos, por causa da idade, conserva o semblante sereno, uma doce simpatia e olha para mim sempre com alegria nos olhos. Todos os dias, lá está ela, no primeiro banco da igreja. Chega cedo para rezar o terço antes da missa. Mora longe, anda a pé, mas nada a impede de participar da celebração. Nem mesmo a pandemia, que afastou tanta gente da casa de Deus, diminuiu seu entusiasmo. Atenta a tudo, já a vi se emocionando durante a celebração. Fico às vezes imaginando o que está guardado em seu coração. Quantas histórias vividas! Com certeza, já passou por muitos momentos de provação, todavia conserva a serenidade, a devoção a Jesus e Maria e a perseverança.

Essa senhorinha que, pelo amor ao sagrado, me faz lembrar de minha santa mãe, é a dona Teresa. Pelo seu exemplo de pertença a Deus, por suas atitudes e por sua presença constante na igreja, posso dizer, sem medo de errar, que dona Teresa é uma mulher de fé.

luisagarbazza@hotmail.com