Neguinha

Ela chegou em minha vida de um jeito nada especial: uma ladrazinha que vivia roubando comida em minha casa.

Na época eu tinha um gato, o Dinho. Costumava deixar uma janela aberta para que ele pudesse entrar e sair de casa quando quisesse. Nunca tive problema com a janela, até ele se envolver com essa meliante.

Dinho não era castrado e enamorou-se pela gatinha em questão. Como não tinham dinheiro para jantar fora, ele a ensinou pular a janela e vir comer em nossa casa. A maltrapilha ainda era uma gatuna oportunista: além de comer a ração dele, roubava o que estivesse pela mesa, fogão, pia...ah, e também revirava o lixo. Que raiva que me dava! Afinal de contas, ela tinha dono.

Depois de um certo tempo desaparecida, ela bateu em meu portão exigindo pensão. Trouxe os 3 filhotes para nos apresentar e o DNA não seria necessário, afinal de contas eles eram a cara do pai.

Acabei por castrar o Dinho e a continuar recebendo as vistas indesejáveis da gatuna. Os filhotes desapareceram, o que podemos entender sem explicações além.

Percebi que o dono da gata, havia se mudado e a deixado para trás, assim ela ficou perambulando na vizinhança.

Passou-se um tempo e meu gato que todas as vezes vinha me receber no portão quando chega do trabalho, não apareceu. Entrei em casa, o chamei e nada. Fui até o quarto deixar minhas coisas e me deparei com ele deitado em sua caminha. Num primeiro momento, achei que era preguiça felina mas quando fui pegá-lo ele deu um grito horrível (nunca ouvi algo parecido, até hoje me lembro). Pensei que haviam o envenenado. Corri ao veterinário, ele precisou ficar internado para averiguar o que estava havendo. Cheguei em casa muito preocupada com o que pudesse ter acontecido com o Dinho. Abri a porta, entrei novamente em casa, quando por entre as minhas pernas passou correndo a cachorrinha - Formiga. Ela se direcionou até o quarto de visitas, foi até embaixo da cama e ficou abanando o rabo alegremente. Quando me abaixei pra verificar qual era o interesse dela, vi a gatinha gatuna. Logo pensei que tivessem dado veneno a ela também e quando puxei a cama, para minha surpresa: bebês!

- Meu Deus, porque aqui? Porque ela me escolheu?

Fiquei confusa quanto aos motivos, mas a certeza é de que não poderia abandonar a mãezinha e seus bebês na rua.

Resolvi colocá-la na despensa, para que pudesse ficar tranquila com seus filhotinhos (eram 4). Decidi que iria cuidar até que desmamassem e colocá-los (junto com a mamãe) para adoção.

Meu gato, o Dinho, teve problemas renais e faleceu.

Nesse momento fiquei pensando na escolha que aquela gatinha fez pela minha casa por 2 motivos: ela sabia que era um lugar seguro para que pudesse ter seus bebês em segurança e foi ela quem fez com que o meu luto fosse mais fácil de passar. Afinal de contas, eu tinha uma mãezinha e bebezinhos pra cuidar.

O tempo passou e foi o que fiz, consegui doar 3 dos 4 filhotes e como é sabido, gatos pretos são muito difíceis de serem adotados e foi justamente o que ficou - um machinho preto. Resolvi então adotá-lo e a mãezinha que também era preta - fato que dificultaria uma adoção também.

Desde 2010, essa gatinha gatuna faz parte da minha vida. Ela transformou-se de uma gata desmilinguida, para uma "ursinha" (como eu a chamo) muito peludinha, gordinha e fofinha.

Ela tem um gênio particular, é muito irritada, não muito sociável com outros animais, porém é muito carinhosa com humanos. Tem dons medicinais, percebe quando estamos doentes e vela o sono até a febre passar.

Tem uma saúde de ferro, gosta muito de passar horas dormindo e de me fazer companhia quando estou trabalhando, estudando ou fazendo qualquer tarefa.

Temos muitas histórias pra contar, várias delas hilárias e que caberão certamente em outro texto. Mas a verdade é que a maior delas é o amor que encontrei nestes olhinhos tão expressivos, que não necessitam falar para entender sua linguagem de amor.

Esse é o 1° texto sobre uma série de histórias dos meus animais de estimação