AS CRÔNICAS DE AMARILDO - Um dia especial!
AS CRÔNICAS DE AMARILDO - Um dia especial!
Amarildo estava caminhando contente em direção ao trabalho naquele domingo de Agosto de 2000. Tinha acordado cedo, adiantado alguns preparativos para o almoço, tomado banho e, após o desjejum, saído pra rua caminhando em direção ao clube no qual trabalhava. De uniforme novo e bem passado, quase desfilava pelas ruas, orgulhoso da nova vestimenta imaculadamente limpa, que sua adorável mãezinha havia deixado prontinha à cabeceira de sua cama enquanto ele dormia.
Amarildo era um homem na altura dos seus 30 anos e que ainda morava com a mãe. Um pouco acima do peso, tinha um desejo constante de emagrecer, fazer academia. Mas a preguiça em fazer exercícios não permitia que ele levasse seus planos adiante. Sua mãe saia cedo para pegar no trampo e ele se dava o pequeno luxo de poder pegar no batente somente a partir das 9:00 da manhã. O clube onde trabalhava ficava na BR 356, distante da cidade uns 7 km, mas Amarildo morava num bairro pobre próximo ao clube. Isso facilitava bem a sua vida! Não foram poucas as vezes em que, quando morava no centro da cidade de Muriaé, Minas Gerais, ter que pegar ônibus coletivo ou ir de carona para o trabalho, o que era ainda mais raro. Táxi estava fora de cogitação, devido à fortuna que se tinha que desembolsar caso contratasse uma corrida. E nessa época ainda não existiam serviços de aplicativos. Assim, ele conseguia ir a pé tranquilamente para o trabalho, cuja caminhada não passava de dez minutos.
O clube ficava apenas um pouco afastado da BR e Amarildo teria que atravessar uma pequena ponte e dar a volta até uma rotatória e caminhar um pouco mais pra chegar ao trabalho. Foi quando notou que, no meio do mato existia um pequeno caminho, desses que são feitos apenas pelo fato de caminharmos sempre por cima do capim. E notou que aquele caminho dava direto no clube, o que o permitiria chegar mais rápido, não só economizando tempo como também poupando suas forças.
Entrou logo pelo meio do mato, e observou que o capim já não estava mais tão alto quanto antes. Notou também que o motivo disso era que havia algumas vacas pastando naquele pedaço de terreno, servindo de corta gramas; “por isso o mato está baixo” – pensou ele.
Não dando bola para os animais e atravessando o caminho que serpenteava em volta de um córrego, cujos contornos demarcavam a divisa do terreno do clube, continuou sua caminhada distraído em seus pensamentos, quando, de repente, sentiu alguma coisa fazer pressão em suas nádegas, como uma força sobrenatural, que o arremessou pra cima e o atirou dentro do córrego, onde se estatelou de frente naquela água barrenta! Tudo aconteceu muito rápido! Se levantando e cuspindo água suja, quase sem fôlego , e tossindo pelo fato de ter engolido alguma coisa, olhou ao redor para ver o que o havia atingido e, virando pra trás, vislumbrou a vaca Gertrudes muito brava e raspando os cascos para ele.
Enfurecido e triste ao mesmo tempo, praguejando contra o Sr. José, dono dos animais, com dificuldade, escalou o pequeno barranco do córrego e conseguiu chegar à portaria do clube pelo outro lado.
Quando o secretário, cujo escritório ficava junto à portaria o viu, já começou a esboçar um leve sorriso e perguntou o que havia acontecido. Quando ele contou... bem... pense numa pessoa passando mal de tanto rir e de ter perdido temporariamente o fôlego e a compostura! O sujeito deitou no banco de madeira que ficava na porta da secretaria e, em posição fetal, se dobrava como se estivesse dando um faniquito de tanto gargalhar!
Com mais raiva ainda, o pobre Amarildo se dirigiu ao bar do clube, local que trabalhava, vestiu a primeira camisa limpa que encontrou, e tratou logo de tomar o rumo de casa, tomar outro banho e retornar ao trabalho.
O coitado do Amarildo estava numa aparência deplorável! E com o corpo sujo de lama e sujeira, chamou a atenção de todos por quem ele encontrava e que paravam com ele pra saber o que tinha acontecido. Sabe como é, né? Cidadezinha do interior de Minas, com pessoas simples e curiosas, e que sabiam da vida de todo o mundo!.
Ao retornar para o trabalho, decidiu, desta vez, dar a volta pela rotatória ao invés de pegar o caminho mais curto. Já tinha tido aventuras demais por um dia. Fora que teria de aguentar a gozação dos companheiros de trabalho e que, em breve, a notícia da cabeçada da vaca Gertrudes se espalharia por todos os sócios e a “zoação” não teria mais fim. “Mas pelo menos”, - pensou ele – “não sofri nenhum ferimento grave e tive sorte que a maldita vaca não tinha chifres. Poderia ter sido bem pior”. Distraído de novo com seus pensamentos, não notou um grupo de urubus que estavam dependurados em um galho de árvore a beira do caminho mais longo que levava ao clube.
De repente, sentiu alguma coisa pesada, mole e quente atingir a sua cabeça! Um cheiro de carniça insuportável o atingiu como um soco, deixando-o tonto! Com nojo, e já antevendo o que havia acontecido, levou lentamente a mão esquerda à cabeça e percebeu logo o que havia ocorrido! Um maldito urubu tinha acabado de fazer suas necessidades em cima dele!
- Não acredito! – disse o pobre homem para si mesmo – Esse maldito urubu cagou em cima de mim! – Agora toda a ira da Amarildo pelos últimos acontecimentos veio à tona! Esbravejou contra aqueles pássaros malditos, xingando todo o tipo de palavrões e jogou pedras nos bichos, que saíram voando assustados.
Não tendo escolha, teve que retornar para casa e tomar outro banho. Mas desta vez não adiantou! O maldito cheiro não saía mais! Usou quase todo o shampoo, sabonete, detergente e desinfetante que encontrou, mas, mesmo depois de horas, ainda estava exalando o fedor daquela maldita ave comedora de carniça.
Como Amarildo tinha acumulado várias horas extras, ficou de licença dois dias do serviço, graças ao gerente do clube que, enojado, o liberou todo esse tempo para mantê-lo longe dos associados.
FIM!
Ps: Essa história é baseada em fatos reais. O secretário “passando mal” de tanto rir acima, é o mesmo que escreve esse conto.