VIGILANTE DA NOITE.
O meu coração está intranquilo, ele sempre está, batendo em completo descompasso, quase a beira do desespero, confesso que não o compreendo, acho que nunca vou compreendê-lo... É sempre assim, com frequência tenho esses devaneios, surge repentinamente.
Não compreender os meus próprios sentimentos passou a ser algo corriqueiro em minha vida, vez é outra, entre um e outro afazer, me vejo no meio desses que chamo de 'devaneio', essa complexa cadeia de emoções, pensamentos e sentimentos inexplicáveis, maluquices para uns, normalidade para esta poetisa desavisada.
E nesses devaneios lembrei-me dele...
Quisera eu ter aqueles lábios nos meus, ah! O beijo quente, o sabor de mel, e os meus, queimando por dentro e por fora.
Quisera eu, amar a luz do luar.
Mas,
Sou apenas uma forasteira desajustada, uma andarilha sem destino que joga palavras ao vento.
Sou o que sou, nada mais importa agora, afinal, o momento é o tormento de nunca ter sido. No meu coração guardo todos os desejos do mundo.
Poetisa que me tornei,
Mendigando palavras ao vento.
Sou aquela que olha para dentro de si mesma para enxergar bem o lado de fora, e quando olho para dentro de mim, eu o vejo resplandecer em uma fagulha de pensamento que logo se esvai.
Ah! Quisera eu, queimar-te a face em fulgurantes beijos, arrebentar os grilhões de meus desejos, viver um único momento todos os momentos como se não houvesse amanhecer.
Estou agora jogada em uma janela de um apartamento qualquer, como uma vigilante da noite, observando os transeuntes que desavisados passam despercebidos pelo olhar dessa coruja míope. Dessa cronista desavisada de olhos verdes.
O coração permanece intranquilo, os pensamentos muito soltos, desejando tais lábios que a princípio, habitam apenas na imaginação de meus pensamentos insanos. A noite corre ligeiramente, as estrelas apressadas acenam do firmamento, o luar está distante, vagando solitário pelo céu. O que temos são as lembranças de nossas dores, por isso sou o que sou e nada mais me importa agora.
Amanhã será dia de trabalho na redação, dia de romper o silêncio com brutalidade, de jogar e tirar palavras das páginas perecíveis do jornal, de ser e não ser o tempo todo, de ter e não ter a todo momento, afinal, vivemos todos em um mundo de ilusões e mentiras, extasiados com uma vida de fantasias e loucuras.
Afinal, sou o que sou e nada mais importa agora. Fecho a janela, deito em minha cama, desligo o computador, estou à procura de palavras para um artigo, ao invés disso encontro sono e sonhos de liberdade. E talvez nesse sonho, eu encontre a ponte para outros universos, onde eu não precise ser eu mesma.
( L. B )