Vidas importam, inclusive da sogra!

Nasci aqui, fui criada aqui pelos meus pais que não mais existem, casei-me e constituí a minha família por aqui mesmo e ainda hoje vivo aqui, praticamente às margens do mar de Tiberíades, também conhecido como Mar da Galileia, Lago de Genesaré ou Mar de Quinerete.

Semelhante a Tiberíades, também a minha cidade Cafarnaum está localizada às margens do Mar da Galileia, um pouco mais a noroeste como localização estratégica para a ocupação do exército romano que patrulha o acesso às fontes que alimentam o nível das águas do mar descendo da região norte.

Por conta da localização, a nossa cidade transformou-se num importante polo de piscicultura que, inclusive, serve até hoje aos interesses comerciais e abastecimento do exército romano em nossa região, além de se constituir em atividade comercial fundamental para muitos pescadores da nossa cidade.

A consequência direta disso em minha família foi que uma das minhas filhas acabou se casando com um dos pescadores da região, de nome Simão e que posteriormente tornou-se conhecido pelo nome de Pedro ou Cefas.

Aparentemente tudo ia muito bem em nossa família, até aquele dia em que o meu genro anunciou para a nossa família que estaria abandonando a atividade pesqueira para acompanhar um galileu de nome Jesus.

Claro que ficamos todos muito preocupados com essa notícia, principalmente eu que vi ameaçada a segurança e o bem-estar da minha filha.

E qual mãe não ficaria preocupada com isso?

Qual mãe não se sentiria insegura com o futuro da própria filha cujo esposo deixaria de trazer para dentro de casa o necessário para o lar e passaria a seguir alguém sem nenhuma proposta de trabalho remunerado?

Bem, confesso que todos esses pensamentos me sobrevieram à mente e se me tivesse sido dada a oportunidade de chamar a atenção do meu genro repreendendo-o por sua decisão, eu o teria feito.

Ocorre, porém, que o meu genro era muito impetuoso. Não poucas vezes percebi que jamais seria capaz de demovê-lo de alguma decisão tomada por ele sem que fosse necessário usar muita argumentação e ter muita paciência para suportar a sua teimosia.

Ele era assim e eu não queria criar qualquer animosidade entre nós, para o bem da minha filha e do casamento de ambos.

Por esta razão, no dia em que ele partiu para acompanhar aquele galileu, recebi a minha filha em casa para cuidar dela e desejei a Pedro bastante sucesso naquilo que ele me disse haveria de ser a partir daquele dia, ou seja, um "pescador de homens". Sinceramente, não entendi muito bem o que ele quis dizer com isso, mas a despedida temporária foi pacífica.

Várias semanas se passaram. Aqui e ali recebíamos alguma notícia de algum amigo que transitava pela rota comercial entre cidades da Galileia e da Judeia. Algumas notícias eram surpreendentes, como por exemplo a informação de que aumentava bastante o número de seguidores do galileu, agora conhecido pelos sinais e milagres realizados e tido como sendo o Messias prometido pelos antigos profetas de Israel.

Agora, sim, eu estava começando a compreender o que Pedro quis dizer sobre ser um "pescador de homens". O concurso das multidões que se ajuntavam para ouvir os ensinamentos do galileu e o acréscimo de pessoas tocadas por ele e curadas das suas enfermidades físicas e também espirituais me ajudavam a compreender o significado da expressão utilizada pelo meu genro no dia em que ele deixou a atividade pesqueira para ser um seguidor de Jesus.

No entanto, uma informação me fez adoecer. Dizia-se que a liderança religiosa e política do nosso povo havia declarado guerra à liderança daquele Jesus e de todos quantos se identificavam com a sua liderança. A partir dessas informações, minha saúde já não mais era a mesma coisa.

Os dias foram passando e a minha saúde foi se agravando, até o dia em que o meu genro retornou da sua viagem, agora não mais sozinho, mas na companhia daquele galileu e dos seus discípulos diretos.

Naquela manhã a febre não quis me deixar embora eu estivesse medicada, porém prostrada em minha cama com os familiares todos ao meu redor, e bastante preocupados. A febre aumentava a cada momento e eu me encontrava muito debilitada sem entender o porquê do mal-estar.

Por volta da hora sexta, quando a febre já atingia o seu pico mais elevado, chega em casa o meu genro trazendo em sua companhia aquele a quem chamavam Mestre e Jesus de Nazaré. Mais tarde eu saberia que, notificado da minha enfermidade, Pedro apressara o seu retorno a Cafarnaum e a ida até a minha casa, embora fosse eu a sua sogra, levando consigo a Jesus, segundo ele, a única e talvez a última alternativa para a recuperação da minha saúde.

Sem discursos, sem alarde, sem pompa ou circunstância, Jesus se aproximou do meu leito, tomou-me pelas mãos e me ajudou a me sentar na minha cama. Tudo aconteceu tão rápido, incrivelmente rápido, a ponto de alguns da minha própria família ficarem como que anestesiados diante do que estavam presenciando.

Imediatamente veio à minha mente uma declaração cantada em muitas das celebrações em nossa sinagoga. A canção diz:

"Que darei eu ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo? Tomarei o cálice da salvação, invocarei o Nome do Senhor e cumprirei os meu votos para com o Senhor na presença de todo o seu povo."

Hoje eu entendo, perfeitamente, o que o meu genro quis dizer sobre ser "pescador de homens"!

Como não agradecer a bondade de Jesus em me livrar da enfermidade e da febre que poderiam tirar a minha vida? Como não entregar nas mãos de Jesus toda a minha ansiedade, todas as minhas preocupações e toda a minha vida sabendo que Ele tem poder tanto para curar os males físicos quanto também os males espirituais que oprimem, escravizam e roubam a nossa paz?

Novamente em pé, na mais perfeita saúde, passei a servir a Jesus e seus discípulos, dentre eles o meu próprio genro. Desde então tornei-me também seguidora do Messias de Israel ainda que Ele tenha sido crucificado no ano 33 da nossa era, porém, ressuscitado ao terceiro dia e elevado aos céus segundo o depoimento de uma pequena multidão.

Vários anos já se passaram, porém nunca me esquecerei daquele olhar de bondade e graça. Jamais me esquecerei da experiência vivida ao toque das Suas mãos. Ainda hoje, carrego em meu coração a lembrança daquele dia, juntamente com a minha gratidão e Ele continua sendo o meu Bem maior.

Jesus de Nazaré é, de fato, o Messias prometido e o Salvador enviado para resgatar a Humanidade da escravidão a que se sujeitou quando decidiu se afastar de Deus desde o Éden e permitir, através da fé nEle, a retomada da  relação de amizade, amor e comunhão entre a criatura e o seu Criador.

O que você acha de conhecê-lo?

Deus te abençoe!

Pr. Oniel Prado

Outono de 2021

30/05/2021

Brasília, DF