Esperando

Eu olhava pra a toalha molhada na beira da minha cama, que eu tinha sido preguiçoso e desleixado demais pra estender. Tudo bem, não tinha ninguém para reclamar. Ninguém pra achar ruim.

Enfim, me levantei e estendi a toalha na janela pra pegar algum sol. Depois me deitei na cama e fiquei um tempo com os olhos cravados no teto, pensando se Vitória ainda lia as minhas cartas, ou se apenas as jogava no lixo assim que o carteiro as deixava.

Talvez ela até tenha se mudado e algum novo morador esteja acumulando toda a correspondência em alguma gaveta. Talvez minhas cartas estejam jogadas em algum lugar, destinadas a nunca serem lidas.

Eu tinha as perguntas, mas nunca teria as respostas.

De qualquer forma eu nunca consegui tirar Vitória da minha cabeça. Os seus olhos profundamente verdes e calmos, ou sua voz acelerada, ou o jeito que ela passava batom na frente do espelho. Nunca consegui esquecer o jeito que ela sorria sem graça, quando eu a elogiava. Eu nunca consegui tirar da minha mente o olhar sério que ela me dirigiu quando eu lhe disse que estava apaixonado.

Naquele momento ela não me disse nada em retorno. Apenas tirou a roupa, apagou a luz e se deitou. Sem saber como processar aquilo eu me resumi a deitar do seu lado e passar a noite no meio de suas pernas. Me pareceu bom o suficiente. Me pareceu certo o suficiente. Até que um dia, ela desapareceu da minha vista, acelerando sua moto no começo de uma manhã.

Com os olhos cravados no teto eu ponderava sobre aquele encontro e o desencontro que se seguiu. Sobre seus olhos e sobre tudo o que senti em tão pouco tempo.

Eu sabia que era perda de tempo me manter pensando naquilo tudo. Mas o que eu poderia fazer?

Desde que ela foi embora, eu tive outras mulheres. Não vou mentir.

Talvez eu tenha mentido pra mim mesmo enquanto estava com elas, fingindo que parecia real e tão bom, quanto tinha sido antes... antes de Vitória.

Mas eu não conseguia esconder de mim mesmo a falsidade das transas casuais e de todo sexo feito em beiras de cama de hotel. Lençóis brancos, corpos quentes, corações vazios.

meu copo sempre cheio...

Meu peito furado.

“Por que você foi embora?” - eu soluço, enquanto encaro a foto que ela deixou sobre a minha mesa de cabeceira.

Vitória gostava de brincar que havia duas pessoas dentro dela, e que eu só conhecia uma das duas...

Talvez tenha sido a outra que fugiu na moto.

Nunca vou saber.

nunca.

Seis meses era tempo o suficiente pra parar de pensar... Ou pensar menos... Era o que eu imaginava.

Mas é claro que eu estava enganado.

Pensei que talvez um dia ela batesse na minha porta, com a mochila nas costas, pronta pra ficar.

Pensei que talvez um dia nós pudéssemos... sei lá... mal consigo lembrar de tudo o que pensei.

Só que hoje tudo isso parece tão desperdiçado quanto as minhas cartas.

Provavelmente apodrecendo na gaveta de alguém, ou num aterro sanitário.

Enquanto eu apodreço e acumulo poeira sobre a minha cama,

com os olhos cravados no teto,

esperando

esperando.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 28/05/2021
Reeditado em 20/07/2021
Código do texto: T7266463
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