Eu vou? Ou ainda é cedo?
Meu peito agora dispara. Vivo em constante alegria. Tudo é tão bom e azul. As coisas são assim quando se está amando. Um dia feliz às vezes é muito raro. É o amor que está aqui. Let it be, let it be, let it be, let it be. Quando o segundo sol chegar, eu vou pedir pra lua iluminar a rua. Há tanta vida lá fora. Aqui dentro, sempre. One love. I love you.
[Pulemos o preâmbulo e vamos às considerações finais.]
Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes. Beija-flor que trouxe meu amor voou e foi embora. Foi surfar no céu azul de nuvens doidas da capital do meu país.
Não adianta fugir. Tudo que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo, como uma onda no mar, num indo e vindo infinito. Stop, please! Tudo passa, tudo sempre passará. Não adianta fugir. Nada do que foi será. Não adianta fugir nem mentir pra si mesmo agora.
Quando olho no espelho, estou ficando velho e acabado. Jurei mentiras e sigo sozinho, assumo os pecados, os ventos do norte não movem moinhos. E o que me resta é só um gemido. Caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento, no Sol de quase dezembro, eu vou. O peito cheio de amores vãos, eu vou. Há tanta vida lá fora. Vem, vamos embora, que esperar não é saber.
Hoje contei pras paredes, passeei no tempo, caminhei nas horas... É o espelho sem razão. Quer amor, fique aqui. Deixa eu dizer que te amo, deixa eu gostar de você. Isso me acalma, me acolhe a alma. Isso me ajuda a viver. Eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer. Nunca se esqueça, nem um segundo, que eu tenho o amor maior do mundo.
Não quero lhe falar, meu grande amor, de coisas que aprendi nos discos. Quero lhe contar como vivi. E tudo que aconteceu comigo. Viver é melhor que sonhar. E eu sei que o amor é uma coisa boa, mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa. Por isso cuidado, meu bem, há perigo na esquina.
Eles venceram e o sinal está fechado pra nós.
Sambaby, sou um menino de mentalidade mediana. (Pois é) mas assim mesmo sou feliz da vida. Pois eu não devo nada a ninguém. Em fevereiro tem Carnaval. Posso sair daqui para me organizar. Posso sair daqui para desorganizar. Da lama ao caos, do caos à lama. Um homem roubado nunca se engana.
Vou mostrando como sou, e vou sendo como posso, jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos, e, pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto. Há quem diga que eu dormi de touca, que eu perdi a boca, que eu fugi da briga, que eu caí do galho e que não vi saída, que eu morri de medo quando o pau quebrou. Há quem diga que eu não sei de nada, que eu não sou de nada e não peço desculpas, que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira e que Durango Kid quase me pegou.
Ouça-me bem, amor. Meu caminho é cada manhã, não procure saber onde estou. Deixe que digam, que pensem, que falem. Preste atenção, o mundo é um moinho: vai triturar teus sonhos, tão mesquinhos, vai reduzir as ilusões a pó. Preste atenção, querida. De cada amor tu herdarás só o cinismo, quando notares estás à beira do abismo, abismo que cavaste com os teus pés.
Sambaby, sei que você vai pra Argentina, no trem das Onze, em meio à vendaval, carrossel e vida a rolar. E eu moro em Jaçanã, embora não esteja interessado em nenhuma teoria, nem em tinta pro meu rosto, ou oba-oba, ou melodia para acompanhar bocejos, sonhos matinais. Quis solamente cantar minha canção iluminada de sol. Mandei plantar folhas de sonho no jardim solar, mas essas pessoas na sala de jantar, por entre fotos e nomes, os olhos cheios de cores, o peito cheio de amores vãos... Eu vou? Ou ainda é cedo?