AS PALAVRAS FORAM PASSEAR
Simplesmente sumiram. E eu aqui sem saber o que fazer. O cursor piscando solitário na telinha do editor. Foi então que ouvi as risadas, e da janela pude observar. Lá estavam elas, felizes, esfuziantes. Tomei o maior susto. Meu primeiro impulso foi trazê-las de volta imediatamente, a qualquer preço, agarrá-las pelo pescoço, óbvio que elas estavam se achando. Não faltava mais nada, me abandonarem assim, sem mais nem menos, sem um aviso sequer, vou matá-las, uma a uma!
Mas não matei, aliás, nem fiz nada, fazer o quê? simplesmente deixei-as seguir. E agora, o que seria de mim? Se elas não voltarem eu morro!
Olha, se alguma vez aconteceu isso com você, não precisa nem ler esse texto. Nenhum relato conseguirá ser absolutamente fiel ao que se passou comigo naquele dia em que as palavras foram passear. Só sei dizer que minha cabeça parecia que ia explodir, dava mil voltas, os pensamentos zuniam. E comecei a me dar conta: que tolice a minha, eu as monopolizara como se fossem minha propriedade. E elas ali pacientemente, me ajudando, traduzindo meu pensar e suportando minhas loucuras. Foram tantos os malabarismos que elas não conseguiram resistir. E o cansaço bateu. E foram recarregar as baterias.
Há males que vêm para o bem, já dizia minha esperta avó. Estava mesmo na hora de eu também arejar a cabeça pra não fritar meus miolos.
No final das contas, deu tudo certo. Depois do "nosso" revival elas voltaram. São fortes os laços que nos unem. Ainda bem.