UM CADIM DE ESTÓRIA

Sinto saudades da infância, da casa onde nasci, das casas nas quais vivi.
Pisquei o olho e cresci, mas aquela criança ainda mora aqui.
Às vezes a saudade aperta e me faz reviver os momentos, aqueles que não foram fotografados, mas ficaram escritos em minha mente.
É engraçado isso, quando criança queremos tanto crescer, só pra ter liberdade: ter a própria TV, comer o que tiver vontade, se vestir como quiser, ser 'dono do nariz'.
Comigo foi assim!
Calçava os saltos da minha mãe e a imitava, logo, vi minha filha fazer o mesmo, foi nessa hora percebi como o tempo passou.
Parece que foi ontem que eu raspava o chocolate da bacia ao delicioso cheiro da nega maluca da mana, que por mais que eu faça, nunca fica igual.
Na verdade, já até parei de tentar. (risos)
Sinto falta de todos reunidos após o almoço para estudarmos a bíblia, achava chato, mas hoje vejo o quanto é necessário.
Nossa casa era cheia, tinha vida, cheiro de família.
Por ser a rapa do tacho tive o prazer de crescer com meus sobrinhos - brincar, brigar e apanhar, era o nosso lema.
Era definitivamente bom!
Lembro-me das vezes que me esqueceram em casa e na igreja, mas sobrevivi, (risos) são histórias a mais pra contar.
Aprendi tantas coisas com os exemplos dos meus pais, na época eu não compreendia, hoje, soam como gritos de sabedoria.
Saudades dessa casa, quem diria!
Sempre achei ser ela mal assombrada, tinha um medo que me pelava.
Mas ao passar pela rua e não à ver mais, é como faltar um pedaço em mim.
Tanta história tinha ali.
Que saudade dos natais, de ouvir futebol no radinho com o mano, de fazer perguntas mirabolantes, fingir saber ler, criar histórias e viajar no mundo da imaginação.
— Essa guria fala mais que o 'omi' da cobra. Ouvia a mãe dizer.
Todos os dias eu esperava meu avô Cecílio (Vô Cilo) no portão, ele sempre trazia uma bala na mão.
Mãe dizia: — Cuidado com o velho do saco!
Um dia o danado quase me pegou, pai passou a cadear o portão.
São tantas memórias que não cabem aqui, nem no peito, às vezes transbordam pelos olhos.
Crescer dói.
Mudar dói.
Mas a vida é uma metamorfose de lembranças, elas são as asas que nos sustentam.
Oras boas, oras más, tudo faz parte do crescimento.
A existência requer poda, rega, adubo, pra que possamos crescer.
Que saibamos dar valor à esses momentos, pois as raízes são as únicas coisas que ficam, quando todas as folhas se vão.

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@xicarasdeprosa | @efeitoprosa

Xícaras de Prosa
Enviado por Xícaras de Prosa em 28/05/2021
Reeditado em 29/09/2022
Código do texto: T7265985
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