Tempestade
Entre gargalhadas e contos de um sábado à noite, lateja a ansiedade de ser.
Sempre fui questionada e me questionei sobre o que queria ser, a cada pergunta é uma resposta que eu invento, na minha cabeça já fui cabeleireira, dona de sorveteria, veterinária, engenheira e até feliz, mas não sou nada disso.
O que eu quero ser? O que eu sou? Vivo a me perguntar o que sou, se não o que quero ser, afinal, se não sou o que quero a quem estou agradando?
O pensamento me tira o sono.
A ansiedade de ser me faz inquieta, estou sempre querendo ser alguma coisa e mesmo assim não sou nada, é como andar em frente quando se está perdido, se agarrar numa falsa esperança de que tudo vai ficar bem, embora não fique.
Contemplo a chuva, hipnotizada como de costume, tento me lembrar da sensação do abraço, do acalento, do toque, a chuva continua…
Enxergo a água escorrer pela janela em proporção simultânea aos meus olhos, marejados com o acúmulo de dúvidas daquela adolescente que perdeu tempo demais agradando os outros.
Choveu no futuro do pretérito da minha jornada, hoje chove forte em mim e no futuro? Deixo a chuva responder quem sou, talvez ela me sinta, tanto quanto eu a sinto.