Nua e crua
A realidade mesmo, nunca combinou comigo, sempre enfeitei o passarinho marrom, em minha imaginação, deixava todas as suas penas coloridas, e se ele caísse com a asa quebrada,
eu logo com ele conversava, prometendo que daqui a pouco ele iria conseguir voar, para sair todo contente e pedia para ele cantar, mas quando ele partia, eu chorava e imaginava que ele iria voltar.
Ele não voltava.
Depois eu me refazia, outro sonho eu criava, quando o dia amanhecia eu ia correndo esperar as borboletas coloridas que vinham para a tenda do pé de maracujá.
O que sei é que naquela época eu não tinha noção de poesia, do amor ou de fantasia, mas eu já queria ser o pó das folhas secas que o vento soprava, morria de compaixão quando via alguma borboleta com uma asa rasgada pelo chão, desejava consertar.
O tempo passou, o pé de maracujá morreu, até as suas folhas secas o vento levou, nem o passarinho marrom, ou uma borboleta sequer, restou a verdade nua e crua, até o velho Ipê amarelo secou.
Liduina do Nascimento