O delicado paradoxo do coração humilde.
Ao contrário do fim, o início guarda em si o mistério do acontecimento.
A morte é conhecida. O seu início é verificável, estimável, aferível em recursos técnicos. Já o início da vida nunca terá uma resposta exata.
Grandes cozinheiros dizem que a parte mais importante de seu trabalho é o mise en place. Desses, os melhores, dizem que o mise en place começa na natureza. Na qualidade do que se escolhe. Por sua vez, os agricultores dizem que a qualidade do que se produz depende da composição do solo e da água, ...
Ou seja, o início das coisas nos leva a entender um outro início, anterior, e assim por diante. Compreender o início é olhar um furacão e tentar encontrar a borboleta que deu a primeira batida de asas.
Todavia, de todos os inícios não revelados, o único que nos é dado o direito de conhecer é o amor.
O amor ao nascer, avisa. Se despe. Te despe. Constrange.
Porque, ao nascer, te expõe à miséria.
Porque, para nascer, algo há de morrer.
É no paradoxo do início que amor se escancara, porque no fim das contas, você só sabe que o amor nasceu, porque ele te dá o sagrado direito de perceber que algo vai morrendo em ti, largando o rastro da certeza de que nada será como antes, abrindo um espaço que somente será preenchido naquele que entendeu que o amor é caminho, não destino.
Amar é morrer em vida.
E ainda assim, amar é única forma de não (deixar) morrer.