O inocente

Sempre me intrigou o fato de que Jesus tenha morrido para remir meus pecados.

Aliás, sempre me pareceu impossível que alguém pudesse ser condenado por crimes ainda não cometidos. Isso só seria possível, se as histórias não fossem contadas através do tempo, ou melhor, se o passado, presente e futuro coexistissem, ainda que paralelamente.

Olho para minha vida e percebo meus fantasmas, meus sepulcros, minhas vítimas e minhas violências. Percebo que, apesar dos dissabores, sou um afortunado por não ter sofrido nem metade das dores que causei. Aliás, mais me feri do que fui efetivamente ferido.

Fui mais perdoado do que perdoei.

Fui mais amado do que amei.

Estou no quadrante oposto daquilo que São Francisco pede ao Mestre, de modo que reconheço, sem ressalvas,

que, recebi bem mais do que a justiça cega me concederia por meu puro merecimento.

Ao olhar para cruz, percebo que as minhas maiores dores estão lá. Um multiverso onde aquilo que de mais podre eu pratiquei encontrou Nele um caminho do tempo para não me encontrar para cobrar seu preço.

É naquela cruz que eu percebo que as dores que sinto são as menores que poderia sentir, e no limite das que posso suportar.

Um inocente morre todo dia para que isso aconteça.

Um inocente morre todos os dias.

Um inocente morre.

O inocente.

Trebe de Maria
Enviado por Trebe de Maria em 26/05/2021
Código do texto: T7264257
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