FORTES E DOCES LEMBRANÇAS
Muita coisa guardo na memória. Coisas alegres e também coisas sofridas. Reunindo muito das minhas lembranças, uma que pela a vida a fora tantas vezes me saltou como que me obrigando a relembrar é a da menina que por ignorar o nome verdadeiro chamei de Tereza, no conto, ou crônica, ou prosa, não sei classificar essas coisas, que escrevi há anos e publiquei aqui com o nome Por quê? Tereza!.
Quando nos mudamos da roça para a cidade eu tinha sete anos. Na propriedade que meu pai adquiriu, entre outras, havia uma casinha que nem era residência, mas sim lugar de guardar ferramentas ou outros apetrechos das olarias, sem as mínimas condições para alguém morar. Nessa casinha, por um tempo foram morar uma mulher muito pobre e sua filhinha.
Recordo que eram discriminadas pelos vizinhos. A menina solitária se aproximava de nós as outras crianças mas ninguém aceitava sua presença. Tenho nítida na memória a imagem da menina Tereza chorando, mal agasalhada, descalça, pisando naquele capinzal branquinho de geada. Transcrevo a minha publicação antiga.
POR QUÊ? TEREZA!
Por quê você era assim? Tua pele era encrostada de queimada do frio, teus cabelos não viam água nem pente, tua presença não agradava ninguém, você vinha brincar e a gente fugia de ti.
Por quê tua casa não tinha piso? Por que as janelas eram trapos rasgados? Por que não tinha banheiro nem água? Por que tua cama tinha percevejos? Por que tuas roupinhas farrapos não tinham o tamanho de ti? Por quê? Tereza!
Por que você existiu ou existe? Por que você estava descalça naquela manhã gelada, sobre a grama geada, por que você chorava? Tereza!
Por que tua mãe era renegada? Por que tua mãe era falada? Por que tua mãe era odiada? Ela também era Tereza, era igualzinha a ti.
Se você me aparece agora na mente, Tereza! pode ser que seja para reclamar algo que o mundo te negou. Quem sabe um presente? Quem sabe um carinho? Quem sabe um olhar sem preconceito, sem repulsa, sem nojo, sem raiva?
Tereza, talvez você tenha sido um anjo que por lá passou e ninguém percebeu, será que só eu te vi?