Julgamento

O que, assim se desejava, era poder sair às ruas, era poder sair em companhia daqueles que nos fazem sermos quem somos. Somos o que somos, na medida que, em relação com o Outro, dele absorvemos algo que dele segue em nós. Não somos uma ilha - solitária, esquecida, abandonada - no oceano da humanidade. Não somos o peixe isolado do cardume que, a despeito, e sem qualquer exigência da companhia, mesmo, nessa condição, é e compõe a espécie peixe. Somos ondas, nesse mar de gente e sentimentos amalgamados. Somos a síntese da evolução, da possibilidade conhecida, de que possuímos predicados que nos elevam à estatura de seres racionais. Todavia, e considerando que nada É em definitivo para o que parece ser, não nos negamos, sob pena de crime de lesa humanidade, que pontos obscuros apareçam no mapa Humano. Esses pontos, desvios ou, simplesmente, aberrações, tal qual, se ocorressem na física, poderiam causar estragos inimagináveis (a dispersão de cezio 137), por exemplo, ninguém ignora os males que causou os efeitos da sua radiação. Da mesma maneira, a dispersão, a perda, no que se qualifica inerente ao Humano (a solidariedade, a amizade, o acolhimento, o respeito pelas diferenças,...) são verdadeiras aberrações, verdadeiras bombas radioativas, e seus danosos males, como a praga anunciada, trarão lágrimas e dores irreparáveis. Considerado isso, os desvios configuram verdadeiro crime lesa humanidade. Dessa maneira, nada mais resta - sob pena de corroborar o crime reconhecido e sua validade - senão julgar tais desvios com o tipo criminal adequado: crime contra a humanidade. Assim, a história, e seus fluxos de eventos ocorridos e congelados no tempo, só terá razão de ser anunciada se se debruçar nua de sentimentos revanchistas. Somente assim, àqueles que cometeram seus crimes, esses não poderão, porque não terão, argumentos para justificar seus nefastos atos. Que assim se faça. Que assim se registre. Que assim se apure. Que assim se condene.