O touro Raul

Tema: Fazer pensar

Ontem, atendi no meu escritório uma neta de um empregado de meu avô Fazinho, o Vicente Pacheco. E me lembrei de muitas histórias na minha tenra infância. Dia de matar porco, na fazenda, era dia de alegria para nós, crianças, e trabalheira para os adultos. Mas acho que eles também se divertiam, porque me lembro da cantoria e das risadas. Vicente era o algoz do coitado do porco. Tinha uma técnica refinada para que tudo desse certo e agradasse a minha avó. Lembro-me das folhas verdinhas da bananeira que viravam forro de mesa, sobre a qual o porco seria destrinchado. E o Vicente levava ao curral uma folha suja do sangue do porco para o touro Raul cheirar e urrar como doido, socando a terra e a jogando para cima do lombo. É de fazer pensar: o que Raul sentia? Ele sabia que significava morte? Sofria com isso? E nós todos, grandes e pequenos, achando graça da brincadeira inocente! Numa das janelas do coração, pude ver todos ali: meus avós, o Vicente e o touro Raul. Acenei para eles, com amor e saudade!