CORINGAS BRASILEIROS

É comum hoje, neste Brasil distópico, postagem de fatos científicos serem debochadas com emojis sorridentes.

São pessoas que decidiram retornar a um passado sombrio. Desprezam a ciência, riem das conquistas espaciais, dos registros arqueológicos, da biologia, das teorias evolucionistas.

Os emojis gargalham como palhaços, me lembram a risada nervosa do “Coringa”, adversário do Batman, que ganhou um filme exclusivo e que fez muito sucesso – eu mesmo assisti e recomendo, por ser um retrato do que a sociedade doentia em que vivemos pode causar às pessoas excluídas.

Mas os “Coringas” brasileiros fazem parte de outra história. Riem-se de todos, assumem um pedestal de grande arrogância. Não precisam provar nada, apenas riem das conquistas alheias.

Debocham da ciência através de smartphones extremamente tecnológicos dos quais nem imaginam como funcionam, ligados à internet e recebendo sinais de satélites em órbita terrestre, a qual muitos deles creem ser plana.

Essa ruptura com o conhecimento, esse desamor peço conhecimento, os deforma.

Alguns preferem se agarrar à religião, de maneira igualmente hipócrita, usando a Bíblia como única fonte – muitos deles nem mesmo a leram, apenas seguem um roteiro pronto trazido por pastores mal-intencionados e interessados mais em seus dízimos.

Talvez seja o desejo de não aceitamento de um mundo tão caótico que os faz desejar o retorno a um passado que muitos deles nem viveram, ou um passado imaginado, customizado.

Agarram-se a uma atitude desesperada, acirram o ódio com tudo o que se mostra futurista. Debocham de nossos cientistas, que demonstram seu valor no desenvolvimento e produção de vacinas nacionais em meio à atual pandemia. Desdenham de profissionais da saúde, que se encontram exaustos, alguns mortos, pelo trabalho de alto risco e com uma agenda diuturna, tentando salvar vidas sem recursos.

Nossos “Coringas”, ao contrário do personagem que se rebela contra o sistema, apoiam um sistema doentio, cruel e perigoso.

Peguei ranço de emojis que sorriem. A única semelhança com o “Coringa” é a crueldade e o deboche, mas, como disse, por causa menos nobre e com sentido oposto: não são contra o sistema, querem ser soldados de um sistema falido das ditaduras e torturadores.

Talvez sejam suicidas que adoram a morte, mas, que querem levar todos consigo.