REINO ENCANTADO.

São raros os momentos em que dispomos de tempo para nós mesmos, em que dedicamos determinadas horas ao nosso prazer e satisfação pessoal. A vida tornou-se apenas em trabalho e mais trabalho. Ganhar dinheiro e mais dinheiro para isso e aquilo outro. Quando por fim, temos o valor monetário necessário para adquirir o tão sonhado objeto do nosso desejo, percebemos faltar tempo para aproveitar a conquista que, por sua vez, como tantas outras, fica sem proveito, empoeirado em um canto qualquer do esquecimento alheio. Não é de se admirar que muitos de nós viveremos uma vida inteira correndo atrás do vento, do nada em lugar nenhum. Sou um com o todo, e o todo em um, e igualmente a muitos, esse pequeno universo do todo está fadado aos mesmos erros de que sempre foi cometido e sempre será.

Este último fim de semana foi de folga, merecido descanso, não é sempre que tenho a oportunidade como a que me foi concedida neste dia tão especial. 

Passei o domingo em um sítio, isolado da sociedade cosmopolita. Não havia internet disponível, nem televisão, nem rádio, nada, exatamente nada, nem mesmo sinal de torre no celular. Era apenas a natureza com toda a sua exuberante beleza, com todas as suas cores, cheiros e sons. Um maravilhoso presente divino. Com direito a uma represa a poucos metros de onde estávamos. Sei que para muitos, escravos dessa era moderna, tal lugar é simplesmente torturante e impensável.  O fato de não ter um celular com internet para navegar é loucura para a juventude de hoje. Uma agradável conversa à beira do fogão à lenha... Eu não poderia desejar algo melhor para o domingo.

Comida feita em panela de pedra, arroz com frango caipira. Panceta fatiada e frita no disco de arado, carne assada, café passado no coador de pano, suco de frutas, tudo do bom e do melhor, cultivado no próprio local. Na parte da tarde fomos caminhar nos entornos da represa, o sol tombar no horizonte, a brisa refrescante, tons alaranjados no horizonte... Dias como esse devem ser aproveitados em cada segundo. Não pescamos, ficamos apenas sentados diante da represa, observando as crianças brincarem na água, ficamos ali parados, contemplativos, como o sabiá no alto da árvore.

Retornei para casa no meio da noite, aquele pedaço de paraíso foi ficando para trás, já deixando no peito a dor da saudade, o gostinho de quero mais... Ao chegar na cidade, veio o choque de realidade, buzinas, carros apressados, bares lotados tocando músicas horripilantes, seres cambaleantes pelas calçadas. Na esquina a lanchonete cheia de jovens, celulares em uma das mãos, copão na outra. As luzes da cidade ofuscam o brilho das estrelas. Os sons produzidos na metrópole são uma agressão aos ouvidos, mas, é essa a nossa realidade diária. 

E pensar que a folga se foi, e tudo é apenas lembrança, e que amanhã, o terror da redação me espera. O que me cabe no momento é esta crônica semeada nas perecíveis páginas de um jornal. Jogada em um canto de blog que logo será deletado. Enquanto isso, guardo na memória o meu reino encantado, na ilusória esperança de que um dia, também terei o meu pedacinho de paraíso no meio do nada.

( A.L)

Alberto de Andrade Lispector. ( A.L )
Enviado por Tiago Macedo Pena em 23/05/2021
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