O DESTINO E OS DESTINOS
O DESTINO E OS DESTINOS
Era costume nos anos 50/60 se perguntar a uma criança o que queria ser, no Futuro e, esta, sem saber nada de nada, respondia a primeira profissão que lhe vinha à cabeça, quase sempre o que o pai fazia. Se fosse menina era doutora, enfermeira, talvez cantora. Crianças de favela, de Morro como eu, não tinham (ou não viam) Futuro, "empacavam", "embatucavam"... o pai fazia qualquer coisa, a mãe era eternamente doméstica, empregada, ambas as coisas ! Gênios como Wagner, Bach, Strauss, um Da Vinci, um Michelângelo já sabiam "com meio metro" apenas o que seriam, Mozart já compunha ao 4 anos. Isso não é justo com a Humanidade estulta, os Bolsonaros da vida, mas eram "extraterrestres", caíram aqui por acaso.
Johnny Weismuller era um garoto comum, esquelético, asmático, sempre doente, destinado a morrer cedo.
-- "Jogue-o numa piscina... se não morrer, se cura" !, teria dito o médico -- inúteis todos os remédios -- para os pais estupefatos. Felizmente todo colégio tinha piscina, os EUA eram celeiro de bons nadadores. Não só não morreu como gostou de nadar, venceu disputas na cidade, no seu Estado, ganhou músculos, fez seu nome no país e o nome do país nas Olimpíadas de 1930 e tantos. O Cinema precisava de um Tarzan, para tirar dos livros as aventuras escritas pelo genial Edgar Rice Burroughs... e Hollywood escolheu o ex-asmático ! A isso chamo de Destino, alguém nos "empurra" para essa ou aquela função, não é escolha nossa mas "estava escrito"... "MACTUB"!, exclamam os árabes.
Aos demais terráqueos resta a ESCOLHA de um caminho, aprender a profissão ou função, aperfeiçoar-se nela, CONSAGRAR-SE -- o termo "quica" em meu cérebro, nos últimos dias -- naquilo que escolheu, atividade que o Mundo requer, necessita. Deus nos dá a Vida -- não é Acaso, isso -- e diz "Agora, segue"! Não, não há Caminho... nossos pais ou outros no lugar deles o fazem ou teremos que encontrá-lo sozinhos, atrás do pão de cada dia.
"Garrincha", Edson Arantes, Zico, não precisaram decidir nada, o Futebol os escolheu... José Tadeu Carneiro tinha irmãos mais velhos na Capoeira, estar nela foi como almoçar ou beber água. Conheci no interior do Pará Sílvio Guedes (dos Santos) aos 13-14 anos, pintando "como gente grande", sem 1 aula sequer de Pintura ou desenho... isso é Destino, não há escolha !
-- "Eu nasci pra Capoeira" !, declarou Pastinha não por vaidade, mas por convicção, nessa Capoeira "que é TUDO o que a boca come" (e que os olhos veem) e que o velho Mestre tentou preservar, para não deturpá-la. Eu não nasci pra Capoeira... meu cérebro não funciona dentro da Roda, os olhos embaçam, "fico tonto" ! Mas, ESCREVER gosto desde menino, 10-11 anos, os dias de Redação, Composição e Descrição faziam minha alegria. Essa opção consciente só a tive ao ver meu primo adulto, sempre "vermelho" por causa da "branquinha", escrevendo misteriosamente, quase que o dia inteiro. Meu irmão, que conviveu com êle mais tempo, só agora me informa o conteúdo: eram peças de teatro que êle vira nos Circos que circulavam pela Cidade ou outros locais.
(OBS: pausa forçada de 6 horas "para ganhar a Vida"... a inspiração "joga-se" do 13º andar e temos que ajuntar os "cacos" !)
Creio que meu primo "de sangue" -- havia outros, adotivos -- Joãozinho foi referência inconsciente, sempre tive curiosidade em saber o que escrevia. Sua imagem, no quintal, anotando freneticamente por horas em folhas marrons, me influenciaram anos depois. Gosto de vôlei e pingpong, fui fã doentio de palavras cruzadas e escritas secretas, códigos, coisas assim, porém ESCREVER era a satisfação maior, daí, haja cartas para as Rádios cariocas, jornais, revistas de rock... para onde podia. Escrevi para a Brasília do generais sugerindo usarem o ouro de Serra Pelada a fim de diminuir a Dívida Externa, com o sinistro FMI em nossa garganta, "vampiro yankee" !
E do muito produzido, "tudo bobagem", "sobrava" algo para as coletâneas de Poesia, a primeira em 1984/85, da SHOGUN Arte, execrada e criticada. Fez enorme sucesso mas cometia o "crime" ainda vigente de publicar como o texto fôra enviado, sem revisão alguma. Quase 40 ANOS depois editores ainda agem desta forma... é um desserviço à Língua-mãe e desvaloriza a obra pela qual tanto lutaram. Mas, como o Brasil era/é "um hospício", ninguém vê o problema dessa forma. Sempre me causa espanto ! Fosse minha a coletânea, o autor receberia mensagem curta e grossa: "ou muda, corrige ou não publico" !
Eis que nesse 2021 maldito, com um presidente doido e um país "se afogando" -- "não consigo respirar", imitava Trump, o "Bolsonaro" do Norte -- um amigo de longa data e distância maior me convida a fazer MEU LIVRO com êle, seria, será talvez, o de estréia, já que estou em 15 ou 16 coletâneas... ser publicado depois de morto é "castigo" ou quase isso! Entre Rios e "rios" (Rio de Janeiro, Rio Negro, Paraguaçu, "Grão" Pará), eis que acrescento mais um: Rio Grande do Sul ! Entre 1992/2000 tive lá 3 ou 4 belos amigos (entre outros gaúchos distintos) que me publicavam e me liam, mais de 300 textos em jornais e revistas literárias de 52 cidades em 11 Estados.
ESCREVER, para mim, é mais que lazer, é terapia... a sensação interna é que, se não ponho no papel as idéias, elas ficam "dançando" no cerebelo, no córtex cerebral, incomodando ao invés de satisfazer. Já perdi amigos (e espaço em jornais) de tanto lhes enviar textos... e continuarei a perdê-los !
Ontem, sexta, 21/maio, um amigo que conheci lá por 1993 -- só êle sabe a data correta, ainda na "Era dos Correios" que hoje abomino -- me contactou no Facebook propondo editar meu primeiro livro. Tenho receios, livro não vende e ver os meus "debaixo da cama" seria um pesadelo ! Só que minha vaidade ME EXIGE um livro ! Sendo assim juntei o "inútil" -- minha produção literária -- ao agradável, ser publicado por um BATALHADOR INCANSÁVEL pela Cultura, lá nos confins de outro Rio, o Grande do Sul.
É meu XARÁ -- nem êle sabe disso, todos os meus parentes também não, me crismei em 1965 como Luís -- e mora em São Luís Gonzaga, "santa coincidência", diria Robin ! Luíz Henrique Borck não calcula o tamanho da admiração que tenho por êle e pela série de livros que criou, "Fulano de Tal & SEUS AMIGOS", no qual poetas e prosadores selecionam os demais escritores, para estarem com êle na futura obra.
O Borck não imagina que "meu Destino" sempre foi ser ajudado... não sou comodista ou FOLGADO, entretanto tudo o que tento sozinho FRACASSA ! Minhas realizações foram invariavelmente através de outras pessoas ! Vou fazer o quê ?! Esse é o "meu" Destino !
"NATO" AZEVEDO ( em 22/maio 2021, 7-15hs)