PAU QUE NASCE TORTO... SHERAZADE INDIREITA...
Por intermédio de meu cunhado, piauiense, aprendi ouvindo seus discos (eu era muito criança) que pau que nasce torto não tem jeito, morre torto.
Na época, eu não entendia bem, mas procurava interpretar as palavras da canção.
Ouvia também na radiola do meu outro cunhado, libanês, as histórias de Malba Tahan, lia seus ensinamentos, para compreensão da vida. Li, inclusive, nas enciclopédias de sua estante- As Mil e Uma Noites - condensado de vários autores sobre o poder do convencimento. Eles, os cunhados, de origens tão distantes e tão diferenciados em suas culturas, trouxeram-me muitos ensinamentos, sem saber disso.
Mostraram-me a realidade de dois povos diversos.
Com meu pai, leitor anônimo da Bíblia e que não aceitava qualquer conversa "furada" de falsos pregadores, aprendi a essência do Cristianismo.
É isso aí. Pau que nasce torto morre torto e baiano burro, garanto, que nasce morto. Não há o que faça endireitar o pau que nasce torto, mas baiano burro também não há.
Se ficar, o bicho pega, se correr o bicho come.
Sherazade tinha que se desvencilhar de tudo que a incomodava e criou um jeito inteligente de livrar-se do incômodo e de salvar a própria vida. Ela não era baiana, tampouco desprovida de inteligência. Era inteligente e sagaz.
Eu era menina, na época, não havia o glamour de férias no exterior, dinheiro para viagens, muito menos. Minhas férias eram curtidas nas casas das irmãs casadas. Lá, eu me deleitava entre livros e canções.
Ouvi, li e aprendi: a, e, i, o,u ypsilon e gritava: a, e, i, o, u ypsilon. Aprendi também a ouvir as histórias de Sherazade, até que o dia amanhecesse ... À espera de que tudo se resolvesse.
"O mundo gira depressa e nessas voltas eu vou..."
Foram lições de interpretação, paciência e resiliência e eu não sabia que aprendia tanto. Era tão menina...
Meus agradecimentos aos cunhados, que contribuíram com minha formação fora das escolas.
Nem tudo se aprende em bancos escolares, eu, menina dada às letras, aproveitei as oportunidades.
Um viva às diversidades culturais e às inteligências humanas, que nos mostram que não se obriga ninguém a mudar de comportamento à força. Cada qual sabe o que decidir e o que fazer de si. A receita é encontrada de alguma maneira no decorrer da vida. Ela, a vida, dá um jeito de nos ensinar, desde a infância.
Conversa-fiada não me faz a cabeça... isso posso garantir.
Dalva Molina Mansano
22.05.21