O SAPATEIRO DO MEU BAIRRO
Praticamente em quase toda a periferia existe sempre alguns profissionais que, com o passar do tempo foram se tornando raros. Estou me referindo, por exemplo, o amolador de facas, tesouras, etc., o sapateiro, costureira, além de outros, diga-se de passagem, literalmente. Mas, vamos ao que interessa para o momento.
Este senhor que se denomina sapateiro, talvez por ser o único em atividade no bairro onde moro, mesmo sabendo que nos tempos atuais com a proliferação da indústria de tênis e outros calçados que, à proporção que se usa logo se joga fora, pois não tem conserto para os mesmos, este sapateiro a que me refiro deve ter uma boa clientela, pois o seu local de trabalho que já chegou até mudar para um maior, devido o acúmulo de objetos, quinquilharias e inúmeras bugigangas que ali estão amontoadas para ele consertar ou aguardando o respectivo dono vir buscar. Então o que acontece? Você deixa um determinado objeto para o dito cujo arrumar. Ele até que atende o cliente com atenção, educação, faz orçamento, aceita uma entrada, fornece até o orçamento por escrito conforme manda o figurino, marcando o dia em que a pessoa pode ir buscar o seu sapato, guarda-chuva, bola, bolsa, etc. Tudo dentro dos conformes. Agora o problema surge é no momento da retirada. Logo de cara ele nem olha para o seu recinto bagunçado como se fosse procurar o tal objeto, apenas já vai logo falando: “Infelizmente, o que você procura ainda não está pronto, só tal dia” - em seguida fala um dia da semana aleatoriamente. Esta é uma desculpa rotineira que ele usa só para logo em seguida procurar aquela encomenda que foi procurada. O cliente finge ou não acreditar e não costuma discutir na primeira vez. Mas já na segunda em que acontece o mesmo, aí o assunto fica mais sério, porém, conversa vai, conversa vem e tudo termina chegando num bom final para ambos.
Dificilmente, uma pessoa chega lá para pegar o seu objeto e consegue ser atendido num piscar de olhos. É uma raridade. Pois sempre tem algum contratempo: ou ele diz que ainda não ficou pronto ou não e, em seguida o mesmo fica todo confuso, encontrando dificuldade extrema para encontrar o tal produto que ele arrumou e o jogou no meio daquela bagunça. Tem cliente que é mais paciente e dispõe de muito tempo fica ali no pé dele aguardando. Ele, por sua vez, ainda chega a resmungar o que é algo inadmissível e feio: “o senhor ou a senhora tem certeza que ainda não levou tal produto?” Que pergunta mais idiota para a idade dele. Pois se a pessoa está ali com o recibo do orçamento na mão é porque não pegou ainda o seu objeto que deixou para ele arrumar e, consequentemente, está perdido no meio daquele antro imundo. Depois de tudo isto, o cliente sai e por sua vez também deixa escapar já fora dali: “Só trago aqui porque não existe outro no bairro!”. Em resumo: cada um resmunga do seu jeito e assim vão levando a vida.