A entrevista da minha vida!

Devia ser perto da hora nona do terceiro dia da semana. O dia estava bastante quente, porém não chegava a ser sufocante. A brisa suave que soprava do deserto trazia também a poeira das dunas mais próximas da nossa aldeia sem, contudo, disfarçar o ar quente verificado em cada lufada do vento ocidental.

Eu estava sentada na bancada que havia colocado bem na frente de casa pensando no que fora a minha vida até então. As pessoas me cumprimentavam ao passar e eu acenava com as mãos para os que me saudavam à distância. Todos tinham conhecimento do que me acontecera há alguns anos e atribuíam, como eu também o fazia com tremenda gratidão, a um milagre realizado por aquele galileu que mudou a minha vida tocando na minha alma.

Nem me apercebi da aproximação daquele jovem bem vestido, certamente de ascendência grega tendo em suas mãos algo que parecia uma tabuinha para escrever.

Reconheci-o grego por causa das vestimentas que não se assemelhavam às túnicas utilizadas pelos homens residentes em nossa aldeia. Certamente, um visitante entre nós.

Curiosamente ele se dirigiu até onde eu me encontrava e se identificou como médico e também escritor. Surpreendi-me quando ele me disse que já havia conversado com muitas pessoas a meu respeito e que, agora, queria ouvir de mim um depoimento do que acontecera com a minha saúde há pelo menos quatro décadas.

A sua fluência, a sua educação e a sua doçura no falar convenceram-me a dar-lhe atenção, até porque eu havia prometido a mim mesma há quarenta anos, jamais deixar de falar sobre aquela experiência que, ainda hoje, mexe muito comigo e deixa o meu coração enternecido e grato pelas lembranças daquele dia.

Tudo estava registrado em minha memória, embora eu já tivesse passado dos sessenta anos. Talvez por ter contado a história repetidas vezes e para muitas pessoas, porém, quanto mais eu recordava dos fatos, mais eu me aproximava do meu Senhor que me deu motivos claros para continuar vivendo!

E agora, sentado ao meu lado e na mesma bancada, fazendo anotações e também muitas perguntas, lá estava eu contando mais uma vez o que Jesus, o Cristo fizera por mim.

Como mulher, eu não podia frequentar o templo em Jerusalém. O máximo que poderia fazer seria juntar-me a outras mulheres e permanecer nas cercanias do templo, no lugar designado apenas para as mulheres.

Por isso, naquele dia caminhei com a dificuldade que me acompanhava há dezoito anos, até a sinagoga que não ficava muito distante. Mas a verdade é que eu tinha vergonha de caminhar no meio das pessoas pelas ruas da cidade por causa da minha deformidade.

Não sei por que ou como fui acometida daquele mal. Não me lembrava de nenhum acidente doméstico ou alguma queda que tivesse ocasionado aquela deformidade na minha coluna vertebral. Eu era corcunda e quando andava pelas ruas só conseguia olhar para as pessoas diretamente nos seus pés.

Eu sentia medo e vergonha ao mesmo tempo. Medo de ser agredida por alguém, até mesmo pelos religiosos da nossa nação que consideravam a minha deformidade uma impureza suficientemente capaz de me excluir de qualquer adoração ao Deus de Abraão, nosso pai segundo a tradição judaica.

Sentia-me envergonhada porque conseguia perceber o desprezo com que as pessoas comuns me tratavam. Eu não tinha a lepra, mas era como se a tivesse pois as pessoas se afastavam de mim e eu não conseguia me aproximar de ninguém.

Você consegue imaginar isso? Consegue escrever como eu me sentia e como era grande a minha dor?

Enquanto eu falava, aquele estranho anotava tudo em sua tábua de escritor. Eu nem imaginava por que, mas lá estava ele escrevendo a minha história.

Foi então que retomei a história da minha vida e, com lágrimas nos olhos relatei como tudo ocorrera.

Naquela manhã de sábado, tinha ido novamente à sinagoga como sempre fazia, já que não podia frequentar o templo. Entrei e fiquei ao fundo torcendo para que ninguém notasse a minha presença quando, de repente aquele galileu a quem eu nunca tinha visto antes pediu-me para ir até ele, à vista de todos.

Comecei a caminhar em sua direção quando ele se dirigiu a mim dizendo: "Mulher, estás livre da tua enfermidade."

Ah, meu jovem. Você não imagina como me senti e como fiquei alegre quando ele impôs as mãos sobre mim e eu consegui ficar ereta sobre a minha coluna, livre, completamente livre daquela deformidade que me aprisionava numa corcunda há dezoito anos.

Imediatamente os meus lábios se abriram e eu passei a glorificar a Deus que viera até mim na pessoa de Jesus que me curara apenas com a sua palavra e com o seu toque de amor e compaixão. Todos ao meu redor glorificavam a Deus comigo ou, quase todos!

E aqui, desejo fazer uma  observação como depoente para que isto seja escrito!

O dirigente da sinagoga tentou me recriminar e também a Jesus dizendo que o sábado não deveria ser utilizado para trabalhar por ser considerado o Dia de Descanso conforme a Lei de Moisés.

O que ouvi em seguida foi indescritível. Aquele galileu que, agora sei que era Jesus, dirigindo-se a todos chamou-lhes a atenção afirmando que, por compaixão, ninguém deixaria de alimentar ou dar água para o seu boi ou jumento que lhes servissem de força de trabalho, ainda que fosse no sábado.

Ora, se assim faziam, por que Ele não poderia me libertar da minha prisão, a mim uma filha de Abraão, escravizada por Satanás em minha enfermidade por dezoito anos?

Ele não disse que fora Satanás que colocara aquela enfermidade sobre mim, mas afirmou que Satanás estava se aproveitando da enfermidade para me escravizar à vergonha, ao medo e ao desprezo.

Ora, você é médico e pode muito bem compreender essas coisas, portanto escreve aí na sua tabuinha de anotações que todos se envergonharam do juízo que haviam feito a meu respeito e a respeito de Jesus de Nazaré.

De fato, aquele era o Cristo. O Messias prometido desde muitos anos e anunciado pelos profetas em Israel.

Tenho mais de sessenta anos e O sirvo desde então reconhecendo-O como o Filho de Deus que veio ao mundo para libertar as pessoas da escravidão oportunista do inimigo das nossas almas.

Lucas era o seu nome. O grego agradeceu pela oportunidade de me entrevistar e disse que este acontecimento seria relatado a Teófilo e demais autoridades, e que a minha história seria conhecida e contada às gerações futuras para que todos soubessem quem era Jesus.

O dia estava findando. Nem reparei no tempo. A noite não demoraria a chegar, mas eu fiquei com as seguintes indagações na minha mente:

Quem é Jesus, para você?

Por que não reconhecê-lo como o Filho de Deus, o Salvador e Ungido de Deus que veio ao mundo para dar nova vida ao ser humano?

Desejo que você O encontre, como eu fui encontrada por Ele!

Pr.Oniel Prado

Outono de 2021

16/05/2021

BSB-DF

Oniel Prado
Enviado por Oniel Prado em 19/05/2021
Reeditado em 25/10/2021
Código do texto: T7259527
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