Como usar o seu melhor!

Para ser sincera, eu jamais imaginei que aquele meu gesto de devoção praticado na minha própria casa ganharia tamanha repercussão.

A minha motivação foi a imensa gratidão pelo que o Mestre havia feito por nós. Primeiro, foi o estado de saúde do meu pai que, infelizmente, contraiu a terrível enfermidade da lepra e precisou se afastar do nosso convívio. Ele ficou tão debilitado que eu cheguei a me preparar para a sua morte adquirindo um unguento caríssimo utilizado em nossa sociedade para ungir o corpo do ente falecido antes do seu sepultamento.

Ocorre que ele não morreu, mas precisou isolar-se do convívio da família e da sociedade da nossa pequena aldeia. Nossa casa tornou-se conhecida como a casa de Simão, o leproso, e Jesus nunca nos abandonou à própria sorte. Guardei o frasco com o perfume no alto da estante de pedra e lá ficou até aquele dia.

Semanas se passaram e o meu irmão também adoeceu gravemente. Enviamos recado ao Mestre para que ele viesse até nós a fim de nos ajudar, mas Jesus não chegou a tempo e o nosso irmão morreu. Nem mesmo tivemos tempo de pensar, minha irmã e eu, na utilização do unguento que estava guardado porque, afinal, como Jesus não chegou precisamos sepultar o meu irmão na gruta, apressadamente, e fechamos a entrada com uma grande pedra.

Quatro dias se passaram até que Jesus viesse a Betânia. Naquele dia eu compreendi que o tempo cronológico não era um impedimento para que ele demonstrasse quem de fato era.  Jesus ressuscitou o meu irmão e o unguento continuou na prateleira,  no alto da estante de pedra.

Não muito tempo se passou até que Jesus retornasse a Betânia. Estávamos nos preparando para a Festa da Páscoa que aconteceria dentro de dois dias.

Ficou hospedado em minha casa, como sempre fazia, junto com os seus discípulos. Foi-lhe oferecido um jantar e minha irmã Marta estava servindo a todos enquanto Lázaro que fora ressuscitado por Ele assentara-se à mesa com o Mestre fazendo as honras da casa.

De repente, os meus olhos percorreram a estante de pedra e eu vi lá no alto, na última prateleira, o frasco contendo o perfume que até então não fora utilizado. Não pensei duas vezes. Levantei-me, apanhei o frasco, aproximei-me do Mestre que tanto abençoou a mim e à minha família, incluindo a ressurreição de Lázaro, meu irmão, quebrei o gargalo longo do frasco e derramei todo o perfume sobre a cabeça de Jesus, cuidadosamente.

O aroma do perfume encheu a casa toda, mas o que aconteceu em seguida me deixou desconcertada. Um dos discípulos de Jesus, conhecido pelo nome de Judas Iscariotes comentou que aquilo era um desperdício, pois o perfume poderia ser vendido a um preço bastante alto, e o dinheiro poderia ser usado para atendimento das pessoas pobres. Eu jamais imaginei que um dos seguidores do Mestre me recriminaria por ter procedido daquela maneira.

Ainda hoje, percebo nos religiosos esse tipo de comportamento hipócrita que esconde os reais motivos egoistas de se lidar com o dinheiro em nossas comunidades.

Quase que me retirei da sala por ter sido recriminada e, envergonhada, já estava me levantando para sair quando ouvi o Mestre dizer com autoridade:

*"Deixai-a! Ela praticou uma boa ação para comigo. Na verdade ela se antecipou ungindo-me para o sepultamento. Os pobres vocês os têm por perto todos os dias, mas a mim, nem sempre me tendes. O que ela fez será contado a todas as gerações futuras!"*

Que defesa! Ele veio ao meu encontro outra vez. Ali estava eu sendo ridicularizada por um dos seus discípulos, mas Ele veio me socorrer!

Ainda hoje penso em quantos de nós somos argüidos e até ridicularizados quando assumimos a postura de nos envolvermos profundamente com Aquele que nos deu Vida abundante.

Lembro-me de ter ouvido o Mestre dizer em certa ocasião que se alguém quisesse ser seu discípulo deveria negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e segui-Lo.

Não é exatamente isso que vejo em muitos que, hoje, se dizem discípulos de Jesus! Com o passar dos anos, descobri  que o mesmo Judas que me recriminara, furtava da bolsa de ofertas dadas aos discípulos, valores que serviam aos seus interesses próprios, e não às necessidades das pessoas pobres.

A gente acaba aprendendo, então, que nem sempre os líderes cristãos são assim tão sinceros e comprometidos com os seus próprios discursos. Principalmente na pós-modernidade, o que vemos acontecer é a completa dissociação da prática com os sermões disponibilizados em abundância na mídia.

Que tristeza!

Dois dias depois deste episódio, Jesus foi preso, incriminado injustamente e condenado à morte não por Pilatos ou pelo exército romano que ocupava a Palestina.

O governador Pôncio Pilatos quis libertá-lo, mas a liderança religiosa do nosso povo insuflou a multidão pedindo a crucificação de quem apenas sabia fazer o Bem.

Como você lida com os insultos e as recriminações que recebe de outrem quando assume compromisso com Jesus?

Quantas vezes você já pensou oferecer a Jesus o melhor que tinha em suas mãos, a saber, a sua vida e o seu coração, mas retirou-se da presença dEle por causa da reprovação de alguém?

Ainda ouço o que alguém me disse no dia em que Jesus trouxe de novo à vida o meu irmão Lázaro. Eu estava em casa, chorando, quando alguém me disse: *"O Mestre chegou e está te chamando."*

Ouça a voz de Jesus, hoje!

Ele está te chamando para uma vida de perfeita comunhão com Ele.

Reconheça ser Jesus o Filho de Deus e vá até Ele.

O mundo inteiro pode não aprovar a sua decisão de segui-Lo mas, somente Ele tem o poder de te dar nova vida acima de qualquer recriminação ou julgamento.

Então, o que você decide fazer agora?

Pr. Oniel Prado

Outono de 2021

02/05/2021

BSB/DF