Vermelho Puro
Não sei qual a razão de escolher uma cor para glorificá-la, quando muitas embelezam nosso olhar, transformando as paisagens e embelezando a natureza. Ocorre que o vermelho é uma cor viva; florescente, abundante, perseverante, insinuante, atordoante e penetrante, a ponto de ser impossível não ser notada quando exposta junto com suas outras irmãs, como o verde, o azul e o amarelo. Nesse cenário de cores, lá se encontra o vermelho reluzindo em contrastes intrigantes, desenhando pontos de convergências que oscilam e rebuscam a ventura de uma simples figura, mas que convence pela nitidez, pela vanguarda, pela exuberância.
O grande significado de uma existência é marcado por um ponto ou uma vertente de cor vermelha: o sangue que corre nas veias, desenhando uma serpente em forma dos sustentáculos de um polvo enorme, alcançando os diversos membros, os diversos órgãos do corpo humano. Em que pese o organismo contar com poucos litros desse líquido vermelho ele é tão poderoso que se espalha feito um formigueiro em todos recantos desse ser, não deixando um lugarzinho sem a sua fiscalização rotineira, penetrando com sofreguidão e com zelo constante em todos os núcleos das células espalhadas pela imensidão dos tecidos e das massas corporais.
Creio que a inteligência do homem fez resplandecer nas festas de final de ano as cores vivas e estonteantes do Natal, marcadas por um tom avermelhado constante, como se simbolizasse o apagar das luzes daquele ano com a cor mais viva possível, relembrando aquele atleta que bem perto da linha de chegada, com traços de impotência e na linha intransponível da fadiga, ainda consegue produzir energia suficiente para dar os últimos passos até a gloriosa faixa final.
Verifica-se que meu desejo não é colocar o vermelho como uma cor principal, exaltando-a perante a sua beleza de ótica apenas, até porque seria privilegiar pontos isolados de nossa história mundial, quando vem especificada em cores para exaltar sua bandeira, seus brasões, cores de time de futebol, cor do veículo etc. Minha intenção é demonstrar que essa cor foi escolhida por nosso Criador para mostrar nosso físico interior, com nossas carências humanas, com nossas limitações de saúde e com todos os percalços que a máquina humana é capaz de produzir, ante a realidade de cada gotícula de sangue que pulsa em nossas veias.
Mas não é só o corpo humano que está simbolizado pelo Criador – na sua essência de funcionamento – com a cor vermelha, eis que alguns outros fenômenos naturais são avermelhados.
Posso citar o nosso glorioso Sol de cada dia, que nasce abundante lá no horizonte e aos primeiros raios resplandece com brilho intenso a sua inesquecível cor vermelha, que permanece viva durante todo o decorrer do dia, indo se dissipando no crepúsculo da tarde, operando desenhos mirabolantes no porvir da noite, fazendo-se despedir com uma bola estonteante e insistente que se desenha na mesma forma de nosso planeta, como se quisesse nos informar que a terra também seria bonita se pintada de vermelho.
Posso vislumbrar também o fogo ardente que se transformou num fenômeno importante para o homem desde os seus primórdios. A chama acesa demonstra um vermelho incandescente e monstruosamente perigoso para quem se aproxima, respeitadas as dimensões de sua labareda. O fogo vermelho quando enveredado por sua ira, atravessa fronteiras, percorre quilômetros e vai dissipando a matéria encontrada no seu caminho, penetrando nas noites e as deixando visivelmente claras, como se sua cólera vermelha fosse algo incessante e perene, mas logo deixará de ostentar sua corôa, por ser também um ente finito e cessará em respeito à sua opositora ferrenha chamada água.
Por essas e outras é que tenho reverenciado essa tonalidade, como a cor monárquica que move o Universo, mas que não venha um gaúcho torcedor do Internacional querer reverenciar o seu time por conta do vermelho, uma vez que quando a cor do Colorado foi escolhida, essa tonalidade já era abundante em todo nosso Planeta, até porque nesse contexto do futebol prefiro as cores mais naturais e mais excêntricas, que são o preto e branco do meio Santos Futebol Clube.