O QUE É A FELICIDADE? UMA LIÇÃO PARA TODA A VIDA.
POR JOEL MARINHO
A pergunta é muito filosófica e tão imensamente complexa que é difícil até começar um argumento a altura. Mas enfim, preciso argumentar.
Desde que eu era criança que esse pensamento vinha até mim, por ser menino da roça acostumado com a lida desde a mais tenra infância ficava pensando se lá na cidade grande que eu nem conhecia poderia ser a felicidade mais fácil de ser encontrada, como se ser feliz tivesse uma fórmula.
Nas vésperas de fazer 15 anos fui morar pela primeira vez em uma capital, a tal cidade grande.
Pensei: agora sim, vou ser feliz!
Quanta ilusão, ou não.
Passei tanta fome naquele ambiente “inóspito” que a minha primeira reação foi voltar para roça, fazia isso constantemente, visto que meus avós ainda moravam no local que nasci e assim fiquei entre a capital e a roça nesse vai e vem.
Mas o que isso tem a ver com a felicidade?
Pois é, parece que nada, mas é a partir desse meu argumento de ser infeliz que parto para me explicar.
Os anos se passaram e tudo que eu queria para ser feliz era estudar, fator esse impossível naquele momento a um migrante miserável. O cansaço da construção civil era muito grande. A fome que castigava, a má alimentação.
E a tal felicidade, bem, essa parece que me odiava.
Aos trancos e barrancos e já acima de trinta anos consegui meu maior feito, passar em uma universidade pública e federal, meu maior sonho para ser feliz.
Mas essa felicidade estava ainda longe, precisava terminar e começar a trabalhar em minha atual profissão, professor. Terminei a faculdade atrasado da minha turma quase dois anos por conta das minhas dificuldades, mas terminei e já foi concursado, porém tive que esperar por mais dois anos para ser chamado e empossado.
Com muita luta consegui e depois outro concurso e outra cidade, outro Estado diferente.
Se eu estava feliz? Se eu sou feliz? Com toda certeza, principalmente depois da “lição” que levei de um aluno sem ele nem saber disso.
No meu ponto de vista a felicidade se dava a partir do momento em que o ser humano tivesse formação acadêmica, ledo engano.
Então, tive uma turma e no meio dela um aluno. Ele era “terrível”, não se concentrava, por vezes bagunçava no meio da aula, entregava as tarefas atrasadas, isso quando entregava.
Por fim, conseguiu terminar o ensino médio, nem sei direito e como a maioria dos alunos, sumiu.
Certo dia entrei em uma sorveteria com a “ninha” parceira de vida e pedimos um sorvete, quando de repente entra aquele rapaz com roupa de gari ao lado de uma senhora e com um sorriso tão imenso de felicidade que dava inveja a qualquer magnata do petróleo ou a realeza inglesa.
Ao me ver gritou: professorrrr! Sabem que quanto professor nós perdemos a identidade, não é?
Deu-me um abraço tão apertado que até esqueci das tarefas não entregues a mim no período de escola.
Então passamos a conversar e ele com aquele sorriso de dar inveja me disse: professor, essa é minha mãe e eu estou trabalhando como gari no carro do lixo, era o meu sonho. Ah professor, estou muitooooo felizzzzz, enfim hoje posso trazer minha mãe e pagar-lhe um sorvete sem vergonha de não poder dar esse presente tão valioso a ela.
Eu com um sorriso amarelo, porém envolvido com toda aquela felicidade dei a ele meus parabéns e terminamos de tomar nossos sorvetes.
Ao ir para casa comecei a repensar o conceito de felicidade e a olhar mais para os meus alunos que dentro de sala de aula aparentemente não querem nada. A felicidade para mim não é a mesma para todo mundo e o que fazemos com tanta alegria e prazer pode ser ao outro um castigo.
Então pensei o porquê de as escolas ainda trabalharem com essa visão tão fechada colocando todos em uma mesma “caixinha”.
Por que se ao contrário disso não fossem desenvolvidas feiras de talentos e assim ao invés de “castigar” o aluno desse a liberdade de criação e busca de fazer o que lhe dar prazer tendo um melhor desempenho para ele e para a sociedade?
Bem, essa é uma discussão para pelo menos mais cem anos, todavia a lição sobre felicidade que tive por “acaso” me fez repensar as minhas práticas tanto como professor, quanto ser humano.
Felicidade é ter a liberdade de criação e de escolha para desenvolver a atividade que mais nos faz bem e com isso servimos com nosso talento tantas outras pessoas que nos cercam.
Imaginem se todos os professores, médicos, advogados, garis, babás, políticos, etc, fizesse da sua profissão um estado de quase lazer. Mesmo sendo trabalho pode ser suave e nos fazer sorrir enquanto fazemos algo sério, pode fazer toda a diferença tanto a quem faz quanto a quem se beneficia.
Então...sejamos felizes no que fazemos, eu sou! E você, já pensou nisso?