DEPENDENTES DE ACESSOS
Levantei mais cedo que o habitual, para aproveitar o silêncio do amanhecer. O texto já havia dormido comigo, faltavam apenas meus dedos entrarem em ação. Logo, ao ligar o computador, aparece a mensagem: "o Windows precisa ser reiniciado". Insisto em continuar escrevendo, adianto bastante a redação, mas a mensagem persiste. Levanto da cadeira e deixo o computador reiniciando. Logo, o mesmo acrescenta: "trabalhando nas atualizações." Enquanto aguardo, me afasto da escrivaninha, vou até à janela, respiro ar fresco e dou boas vindas ao novo dia... Depois, retorno à escrivaninha com a mente questionando aquela pausa 'obrigatória'. Pego uma agenda do ano anterior, na tentativa de continuar a escrever enquanto as atualizações são concluídas. Começo a pensar além do texto, e percebo que todo esse tempo estive enganada. Logo eu que acreditava possuir o controle dessas máquinas. "Só que não"... Agora vejo que elas são quem me mantém sob controle. Mais uma vez tento redigir à mão, no entanto, logo ali abaixo de meus olhos o celular vibra, mesmo no silencioso, acende uma luz e me provoca a ver quem me enviou mensagens. Já meio chateada por não estar escrevendo ou melhor, por não conseguir escrever à mão, nem poder usar o computador, desativo a conexão. Só assim, me desligando do WhatsApp, E-mails e outras atualizações no celular, vou conseguir escrever. No entanto, devo confessar a vocês que, desde que comecei a digitar no teclado, perdi o jeito e a vontade de escrever no papel. E quando, por necessidade (no trabalho) tenho que fazê-lo, devo admitir que minha caligrafia (antes desenhada em sala de aula) fica meio a desejar ou horrorosinha. Mas vamos lá, estar conectada o tempo todo, me tira essa possibilidade de pensar melhor, de escrever algo pelo menos apreciável, para publicar. Nesse momento o Sol já surgiu por trás da serra e seus primeiros raios dourados atravessam o vidro da janela para me fazer lembrar que já não tenho muito tempo, que as horas que me separam do trabalho são insuficientes para a conclusão de meu texto. Para não arriscar publicar algo passível de sucessivas alterações/edições, decido deixá-lo armazenado aqui na pasta de rascunhos como faço quase habitualmente.
Vou para o quarto, começo ouvir uma música e aproveito para relaxar um pouco enquanto me troco/produzo para ir trabalhar. Da janela vejo as folhas das árvores balançando ao sabor do vento. Embora sozinha, me permito liberar um riso tímido, na certeza de que, mesmo sem o poder para controlar máquinas, só eu acesso minhas senhas e códigos interiores. Isso me faz sentir "empoderada", apesar de não simpatizar com essa palavra. Sou eu a responsável literalmente pelos segredos que abrem as portas de acesso à minha "estrutura"...