FOI PESADO O SONO PRA QUEM NÃO SONHOU(Gilberto Gil)

Neste exato momento no Brasil, há aproximações políticas de vários matizes ideológicos em torno das propostas partidárias para as eleições à presidência da República em 2022. A movimentação ganha força desde a euforia do PT com a eleição de Biden e a derrota de Trump nos Estados Unidos, vistas como um sopro dos ventos da Democracia. Por outro lado, ainda não está definido o vai e vem dos militares na reeleição de Bolsonaro ou na montagem de nova chapa de extrema direita.

O fato é que este governo do ex-capitão aglutinou a volta dos militares ao executivo nacional provocando o estreitamento dos vínculos de dependência aos USA. Claro que é do interesse do Império impor um novo paradigma ao capitalismo que impeça a perda crescente da sua supremacia no mundo.

A nova correlação de forças com os desafios da pandemia do Covid 19 viabilizou a corrida em torno da reconquista do poder a qualquer preço. Fala-se em Frente de Esquerda, Frente Ampla e, todas, pretendem garantir a vitória. Temos de ficar atentos à ausência de questionamentos sobre a centralidade das eleições, onde todos que disputam este espaço querem nos fazer crer que é o mais fundamental na luta política. A ausência de foco na maioria – os trabalhadores – deixa de levar em conta os projetos políticos alternativos, que não dependem da luta partidária. A viseira que impede de olhar para vários aspectos da realidade, acaba por atingir somente os espaços institucionais.

Nesse terreno pantanoso sem o suporte das pressões do povo, desorganizado e disperso, os partidos políticos “chapa branca” ansiosos por garantir benesses estatais perdem o “medo dos espelhos”, pois esquerda e direita refletem somente suas ambições pessoais e partidárias. Ficam de fora os interesses do povo e do país, e ganham os interesses das frações dominantes e dos grupelhos privilegiados.

O panorama internacional mostra a corrida contra o tempo na defesa da supremacia imperial do Ocidente diante da expansão econômica e militar dos povos da Eurásia. Mais do que nunca os estrategistas do Pentágono vigiam seu quintal, os países da América do Sul. Agora que recuamos à condição de “Brasil Colônia”, abalando o pouco de autonomia que tínhamos, o agito entre presidenciáveis, é o prêmio de consolação. Logo depois da posse do novo presidente americano apareceu nos jornais da Web informes sobre o PLANO BIDEN _ Alternativas para o Brasil (Boletim Carta maior, 28 de março de 2021). Os militantes de oposição ao governo que mudam a casaca de acordo com os rumores do Primeiro Mundo, esquentam as baterias na disputa entre adversários de várias ideologias contando com as possibilidades de sair dos extremos para uma “terceira via”, uma posição de centro, que fique livre das polaridades ocorridas nas eleições de 2018.

Surgiu o boato que Biden vai apoiar a “terceira via”, e esse ambiente sugere que há uma convergência entre Matriz e Filial, na oposição ao Governo Bolsonaro depois da derrota de Trump. E, esta aproximação contaminou as dissidências militares também em busca de uma “terceira via”. Os generais de reserva articulam seus simpatizantes para conter o combate Bolsonaro x Lula. Outras patentes e até civis, como Aldo Rebelo, ex-Ministro da Defesa, ex –PC do B, hoje pré-candidato à presidência da República pelo Solidariedade apoiam a proposta (“À Espera de Mourão”, apublica.org,30/04/2021). A manchete no Estadão “Militares da ativa soltam 3,4 mil tuites de caráter político-partidário” (03/05/2021). Esta notícia contraria as Disposições dos Regulamentos Disciplinares das Forças Armadas, que permitem apenas aos militares inativos, e os militares ativos são proibidos de tornar público assuntos de ordem político-partidário. (Os militares e a livre expressão pública do pensamento, Jorge Cesar de Assis, Jusbrasil, s/data). Essas tensões políticas mostram que os diversos grupos em contenda estão à beira de um ataque de nervos em busca de uma saída que afaste Bolsonaro do poder ou da manutenção do status quo.

Entre os progressistas e as esquerdas tem opções: de uma das duas Frentes ou seguir sozinho podendo usar os palanques e as mídias como propaganda e denúncia das arbitrariedades cometidas pelo governo atual. Pelo afrouxamento de seus contatos na base e o distanciamento das massas é pouco provável que ganhem nas eleições majoritárias. Porém se seguirem a estratégia de “dividir para reinar” em torno da hegemonia do partido podem correr o risco de fracionamento e evasão. Nessa futura competição eleitoral achamos que a esquerda não é a bola da vez, e qualquer composição com vertentes conservadoras vai estreitar a dependência ao Império.

Essas reviravoltas podem aumentar o desencanto da política e provocar as abstenções das “maiorias silenciosas”. Quando a política se exerce com “p” minúsculo, e é alvo da banalização e das fake News já podemos prever que vai vigorar a ambição pessoal e o jogo entre os partidos que têm o domínio da máquina e dinheiro para investir.

Doris Lessing em O Sonho Mais Doce (2007) relata o mundo em que viveu durante a segunda metade do séc. XX, ambientando o romance entre à década de 1960 à década de 1980. Ela põe em xeque a esquerda radical, o feminismo, as terapias alternativas, as organizações humanitárias e o movimento em prol do desarmamento nuclear. A autora comenta o quanto é difícil abrir mão dos mais doces sonhos, cruzando os personagens de ficção com os fatos históricos provando que não é todo o sonho que vale a pena ser sonhado. Vai apontar a sucessão de erros e, a repetição das diretrizes, que a juventude negava em sua luta política . Depois na fase de adultos ao assumirem o poder, vão conduzir o país da mesma forma perversa que seus oponentes do passado. Deduzimos que, essa repetição de erros sempre maiores que os acertos, faz pensar que temos de ter coragem para dar “adeus às ilusões”.

Como decidir os caminhos que virão, se no aqui e agora estamos sempre repetindo o passado, sem tirar as lições dos erros e optando sempre pela afirmativa de que foi o melhor que poderíamos fazer? Talvez neste momento histórico, a brecha que vai beneficiar os eleitores, seja no sentido de reduzir escolhas e expectativas, selecionando pessoas que tenham mais margem de manobra. Não podemos esquecer que, mesmo assim, corremos o risco de votar nos candidatos do “bas-fond”, já que os aparelhos do Estado estão contaminados de ilicitudes. Todo cuidado é pouco. Supomos que ao nível mais alto do Executivo – a presidência da República- possa ser o alvo das artimanhas e acordos ditados pelos chefões das milícias palacianas, junto aos big boss da Matriz Imperial. Diante desse contexto surgem opções: ou assumimos os candidatos impostos e as promessas dos partidos; ou fazemos uma triagem do voto possível; ou o voto nulo; ou engrossamos as fileiras da maioria silenciosa.

ISABELA BANDERAS
Enviado por ISABELA BANDERAS em 12/05/2021
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