DEIXA-ME SER
DEIXA-ME SER
“Escuta: eu te deixo ser, deixa-me ser então”. Clarice Lispector
Eis o nosso grande desafio cotidiano: ser. Ser jovem é mais que estar jovem. Ser velho e não estar velho. A gente precisa se reinventar todo dia. Essa dinâmica da vida exige que tenhamos um desprendimento muito grande da pessoa que queremos ser e ainda não temos os instrumentais que, de fato, nos guiem. A linguagem me é essa bússola para que eu não me perca nesse mundo de possibilidades. Em contrapartida, há momentos em que nos deparamos com pessoas que não nos deixam ser. A isso se dá o nome de sequestro da subjetividade. Esteja atento e não se deixe ser orquestrado por um maestro que nunca compreendeu sua própria partitura.
E como tenho refletido sobre o quanto há pessoas que não nos deixam ser porque, talvez, nem elas mesmas saibam viver suas vidas. Se um dia tiveram sonhos, perderam-se. Acho que somente isso pode explicar o porquê de se incomodarem tanto com a vida alheia e se sintam tão necessitados de atravancar a vida de quem está dotado de propósitos. Triste de quem sonha e apenas se mantém no mundo das ideias, experienciando um amor platônico consigo mesmo, se é que ao menos isso tem.
O escritor Oscar Wilde foi certeiro ao dizer que “viver é algo muito difícil. A maioria das pessoas apenas existem”. Permita-se se autenticar, (re)conhecer-se para que sua vida não seja exercida por uma personagem cujo papel não é o que de fato quer apropriar. Mude os cenários, as personagens e, por conseguinte, a plateia. Alguém disse que, quando queremos ser maestros é necessário dar as costas para os expectadores. Em nosso regimento interno, deve haver cláusulas claras sobre nossos anseios. A liberdade consiste nisto: ser verdadeiro consigo, apesar de, apesar de e mesmo assim... E talvez você se sinta só, mas será nesses momentos em que irá mais se descobrir.
Não é mais tempo de máscaras, mas de um despojar-se para que se siga com a leveza de uma borboleta que rasgou o casulo. A metáfora é velha, mas você deve ser de novo, novo e entender que a graça mesmo é deixar-se ser para sermos reais. Nos bastidores, a fantasia. Na guerra, armaduras. No palco, uma asa no solo e outra no céu.
Leo Barbosa é professor, escritor e poeta