RECORDAÇÕES.

No céu de fim de tarde, passeiam nuvens escuras, umas maiores outras menores, talvez uma possibilidade de chuva durante a madrugada. Na rua, carros apressados indo de um lado para outro, todos querendo chegar, buscar, levar e comprar, indo e vindo... O vento sopra frio vindo do norte castigando a pele desnuda. Parece até que já estamos vivendo o inverno, estação horrível, detesto com todas as minhas forças, não sou o tipo que aprecia casacos e pele arrepiada debaixo de cobertores grossos, nada disso... Prefiro o verão, calor intenso e seus afins.

Um aroma gostoso invade as narinas, invade a sacada do meu quarto, a casa inteira, aliás. Certamente que, ele, o vizinho do lado direito está preparando o jantar em seu velho fogão a lenha. Ele já me convidou algumas vezes, ocasiões especiais, panela de pedra, comida boa...  Tudo isso me faz lembrar da infância, comida da mamãe, fazenda, natureza, silêncio, café passado no coador de pano, fogão a lenha, ah! Meu Deus, quantas saudades dos almoços de Domingo, da macarronada com sardinha que mamãe preparava com tanto carinho. Adorávamos...

Mas, os tempos são outros, as pessoas não são as mesmas, a sociedade com toda a modernidade disponível entrou para dentro de si mesma, ocultou em seu egoísmo. 

Lembro-me perfeitamente do meu tio acordando às cinco da manhã, indo com seu cavalo pelos pastos da fazenda reunir o gado no curral para tirar o leite,  que, saboreavamos ali mesmo, caneca de alumínio nas mãos, boca com o bigodinho da espuma. Hoje, nada disso faz mais sentido, nada mais parece ter valor. Somos meros espectadores de um mundo caduco e caótico.

Saio da sacada, vou para o quarto, pego toalha e roupas e vou para o banheiro, desnuda, entro no box, abri a água, fico de olhos fechados de baixo do chuveiro, água quente que percorre o corpo, shampoo, sabonete, água que vai... Lembranças que veem. Os banhos de rio, carinhosamente chamado de, 'ribeirão', quando ainda havia rios limpos de águas cristalinas. Nadamos sem nenhuma preocupação, mamãe ficava louca conosco, tempo bom que não retorna mais.

Hoje o meu dia foi assim, cheio de recordações do passado, fatos ocorridos, engraçados, tristes, enfim, difícil não se emocionar com essa torrente de pensamentos do passado. Justamente em um dia tão especial como esse, do dia das mães. 

Considero-me uma sobrevivente nesse mundo cão, mundo que não me aceita, que impõe os seus caprichos, sou o tempo todo levada a servidão diária de suas loucuras. Jogando sempre no que os outros querem, ignorando o meu próprio eu. " Faça isso, faça aquilo outro, assim é assim - e sem questionar a vontade do sistema". Este é o tipo de sentimento que prevalece na sociedade. Obedecendo cegamente para ter e ser... Quem disse que quero ser e ter. Eu sei que nem sempre as coisas acontecem como desejamos. 

Termino de me arrumar e vou para a cozinha, preparar não sei bem o quê. Uma amiga do trabalho sugeriu arroz com costelinha de porco... Simplesmente sensacional - para quem sabe fazer - novamente vejo a infância, doze anos, casa da mamãe, ela sempre fazia arroz com costelinhas de porco, o dela, qualquer coisa de outro mundo de tão maravilhoso que era, o meu, um horror culinário comestível. Eu me acabava de tanto comer. Ah! Que saudades de mamãe... 

Vou terminando por aqui essa breve crônica, na verdade não falei nada do que pretendia, mas, tudo bem, as boas  lembranças resolveram tomar de conta de cada indecente neurônio, nada mais justo do que lhes ceder um pequeno espaço literário. E fica aqui, o meu feliz dia das mães a todas as mães. É o desejo dessa cronista meio descuidada.

( L. B )

LUISE BATILIERE.
Enviado por Tiago Macedo Pena em 09/05/2021
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