Um estranho junto ao poço
Já nem me lembro de quantas vezes fui ao poço para buscar água, e sempre ao meio-dia para não me encontrar com os homens que vêm ao poço nas horas em que o sol não está tão escaldante.
Naquele dia, à distância percebi a presença dEle, mas não voltaria para casa a fim de retornar depois, quando ele já tivesse ido embora. Cautelosamente, aproximei-me do poço e preparei-me para retirar uma cacimba de água quando ele me pediu água para beber.
Ele parecia ser judeu. As suas vestes e o seu comportamento o denunciavam e até aquele momento eu não entendia o que ele estava fazendo ali, sozinho, no meio do nada. E, mais do que isso, não conseguia mesmo entender como ele, sendo judeu, se dirigia a mim, uma mulher samaritana.
Certamente ele já sabia disso, e eu ainda me arrisquei falar com ele sobre as nossas diferenças centenárias que nos afastavam cultural e socialmente, mas ele me aguçou a curiosidade quando me disse que tinha uma água especial que, segundo ele, era capaz de dessedentar quem dela provasse, para sempre.
Para ser sincera, eu estava gostando da nossa conversa que ficou ainda mais interessante quando ele me disse que chegaria um tempo em que nem ali onde nos encontrávamos e nem em Jerusalém as pessoas adorariam ao Deus Eterno.
Logo pensei ser ele um dissidente lunático, inconformado com a religiosidade e o cerimonial dos judeus. Aquela história da água milagrosa que saciava a sede de quem a bebesse, e mais esse negócio de um novo lugar de adoração parecia não combinar com tudo o que eu havia aprendido.
De repente, ele mandou que eu fosse buscar o meu marido para continuarmos a conversa a três. Mal sabia eu que aquilo fora apenas um artifício para ele se revelar como profeta, pois quando eu disse que não tinha marido ele simplesmente relatou a minha história fazendo alusão aos meus cinco maridos anteriores e ao meu companheiro atual. Ele já me conhecia! Comecei a pensar que ele estava ali só por minha causa!
Meu coração começou a bater mais forte. Deixei o cântaro na beira do poço e corri até a cidade para chamar outras pessoas para conhecê-lo. Quem sabe não seria ele o Messias prometido?
Uma pequena multidão formou-se ao redor dEle, no poço de Jacó, e ele passou a ensinar a todos a verdade sobre a água que era Ele mesmo, e sobre a adoração ao Pai em espírito e em verdade, a partir do encontro pessoal com Ele.
Nunca mais o esqueci. Voltei ao poço muitas outras vezes e em todas as vezes as suas palavras ecoavam na minha mente e no meu coração:
"O Pai procura verdadeiros adoradores. Deus é Espírito e quer que os seus adoradores O adorem em espírito e em verdade."
Lembro-me do depoimento de vários integrantes daquela pequena multidão que O reconhecera como sendo o Messias prometido, não por causa do que eu anunciara, mas porque eles foram persuadidos pelo que ouviram e passaram a ser os tais "verdadeiros adoradores" a que Ele se referira.
Desde então, a minha sede espiritual foi também saciada porque compreendi que nem a religiosidade e nem o cerimonialismo das religiões pode ocupar o lugar de Jesus de Nazaré no meu coração.
Meus olhos foram abertos e eu compreendi que a verdadeira adoração ao Deus Eterno começa dentro do coração da gente através do reconhecimento de que Jesus de Nazaré é a Água Viva e que os homens, em toda parte e sem distinção de raça, cor, sexo, religião ou partido político podem ir a Ele para se tornarem verdadeiros adoradores do Criador.
Quantas vezes eu pensei em negar a minha origem samaritana e ir para Jerusalém a fim de adorar no templo. Agora nada disso importava. Eu O tinha dentro de mim, no meu interior e, como Ele mesmo disse, do meu interior parecia jorrar uma fonte de Águas Vivas saltando para a Vida Eterna.
Abençoado encontro aquele, num dia de sol escaldante e à beira de um poço. O Messias de Israel viera até mim e você pode ir a Ele.
O que você acha de buscar conhecer a história de Jesus de Nazaré?
Pr. Oniel Prado
Outono de 2021
11/04/2021
BSB/DF