Não bastasse a impiedosa privação da liberdade imposta pela pandemia, o afastamento social obrigatório e a ausência de abraços, as mortes em massa vem somar-se como sendo uma consequência devastadora que vai apagando aos poucos a humanidade.

Outro dia me vi olhando pela janela como se fosse ela a única fuga capaz de transportar nossas mazelas num encontro perfeito com a natureza, aliás, parece que as folhas se reproduziram em massa, que as flores pipocaram em todos os cantos, que os pássaros fizeram a caravana e tem cada um de beleza inigualável, que os grilos estão em fase de encontro emcontro familiar e que a vida parou ali, diante dos meus olhos. O problema é que ela sempre esteve ali, não mudei a janela, não investi em plantas, tampouco busquei animais para o sítio. O que mudou até aqui, foi o meu olhar.

Crianças reunidas num tumulto sem fim faz uma falta danada. Barulho bom, um energia libertadora que foi abolida de forma drástica e agora dão lugar aos encontros via meet. Quando a câmera se fecha, é como se as cortinas do teatro da vida também o fizessem. E aquele clichê da psicologia vira método de ensino: passe 5 horas diante das telas e construa conhecimento! Uma coisa boa de tudo isso é que a onda homescholl acabou virando meme, professoras não tiveram nem tempo de festejar a nova onda.

Os adeptos da vacina não, agora dançam ao som do funk mais comentado dos últimos tempos: Vai com o Bumbum, Tan, Tan... Mexe o bumbum, Tan, Tan. Quem diria que #VacinaJá para todos viraria bandeira? Tempos modernos.

Não temos muito tempo pra correr atrás das horas perdidas, dessa trajetória, mas convenhamos, de um tempo pra cá a vida parece urgente.

Já somos o 3° país em número de contaminados, imagine se tivéssemos acreditado na contaminação de rebanho. Ainda bem que restaram alguns, poucos, loucos que aderiram a prática do mundo: epidemia não é jogo.

Mas voltemos à janela, ao tempo frio, à saudade embalada num papel de pão, na despedida sem adeus, no ninho solitário de uma UTI, na ausência de programas que inserissem práticas mais contemplativas de recuperação da saúde, no vai com Deus, na inquietude do uso da máscara, na sofrência da procura de um leito, no medo de ser a próxima vítima, no preconceito social velado para com aqueles cuja imunidade foi insuficiente.

Tempos difíceis esses em que "o riso é sinal de resistência" e a alegria é insigt mental que ao tomar choque de realidade, faz-se pequena, triste.

Se você não está triste nos últimos tempos, se não chorou ao menos uma vez nos doze meses, você ainda não entendeu... Não entendeu...

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 05/05/2021
Reeditado em 25/11/2021
Código do texto: T7248901
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