Crônica da limpeza de gavetas

Hoje, esvaziei umas gavetas... no sentido real e psicológico também!

Sabe quando você abre uma gaveta antiga, que faz muito tempo que não abria?

E nessa gaveta você acha um monte, mas um montão de fotos antigas? De lembranças?

Aí você acha fotos de pessoas que ainda são importantes (parentes, amigos, etc.) e dá até uma nostalgia gostosa, a gente revive emoções, fatos e acontecimentos.

Aí, você guarda com carinho essas fotos, pensa em escanear e mandar para as pessoas envolvidas.

Mas também tem o outro lado da moeda.

Encontrei umas fotos (e olha que era um acervo grande) que ninguém mais têm. Sim, achei um material que NINGUÉM mais tem. Digo das pessoas envolvidas...

Aí olhei para as fotos e me senti triste!

Não porque não estava mais envolvido com aquelas pessoas, definitivamente não!

Como eram fotos que marcavam a trajetória de pessoas, deveria me trazer felicidade, alegria, prazer!

O que eu vivi com elas foi legal e não me arrependo, mas quase que 99% das pessoas ali nas fotos não tenho mais contato.

E não é só a questão do contato (porque isso é normal, cada um tocar a vida para um determinado lado, correr atrás dos seus sonhos e objetivos), não é isso não!

É perceber que aquelas pessoas te usavam, abusavam de você!

E diziam até que eram seus amigos!

Mas em determinado momento, não tinham escrúpulos nenhum em te passar uma bela rasteira, te passar para trás, te jogar no buraco... qualquer coisa que o valha, para que a pessoa se desse bem!

Ou seja, no frigir dos ovos, cada um cuida de si!

Demorei para perceber isso!

Essa é a parte triste que via nas fotos!

Claro que vi coisas alegres nas fotos!

Mas percebi que as coisas alegres e importantes ficam mesmo é no coração!

Vi que não precisava daquelas fotos! Não mais!

Uma voz pequena dentro de mim questionou-me se eu deveria então enviar estas importantes e únicas fotos às pessoas envolvidas, ou pelo menos escanear as fotos e postar num facebook ou instagram da vida que elas copiariam em segredo (pois elas estão por aí na internet).

Meu coração avaliou essa proposta, pesou direitinho e julgou que as pessoas envolvidas não mereciam esse carinho, esse respeito, essa nobreza da minha parte!

Então como num ritual de magia branca, descarrego ou coisa que o valha, fui rasgando, destruindo foto por foto... picando bem picadinho!

Com gosto!

Com tesão!

Com um prazer inominável!

Não desejando mal a ninguém daquelas fotos, de forma alguma!

Mas desejando, sentindo que daquela forma, estava me desconectando de vez do passado, soltando de vez essas pessoas da minha vida ( e eu me libertando delas!).

Como que fazendo uma mandinga, um "vudu", para que nunca mais essas pessoas se aproximassem de mim!

Após picar todas, ateei fogo... que delícia!

Sim, era um ritual... de desapego! E libertação!

Claro que agradeço a Deus por tudo de bom e ruim que passou!

O que passou e foi bom, deu prazer e boas lembranças!

O que passou e foi ruim, deu dor, mas amadureci!

Que essas pessoas sejam felizes!

Mas longe de mim! (eu pensava a cada foto que rasgava!)

Era estranho!

Confesso que era estranho!

Eu realmente não estava sentindo raiva, ódio! Nenhum tipo de nervoso!

Só paz! Calma, serenidade!

Alegria!

Prazer!!!

Muito prazer! Quase que sexual!!!

Um êxtase!

Liberdade!!

É isso!!

Estava me libertando naquele ato!

Naquele ato simbólico de rasgar e depois queimar fotos, estava rasgando, acabando com uma parte do passado que me desagradava. Queimando esse passado...

E minha alma ficou leve, serena!

Feliz!!!

Como estou feliz!

A gente deve sempre fazer essas faxinas na vida da gente de vez em quando.

Na carteira, na gaveta, no armário, no guarda-roupa...NA VIDA!

Devemos ver o que serve e o que não serve mais e deixarmos ir embora!

Afinal de contas, só vamos abrir espaço na nossa vida para algo novo, se deixarmos ir embora o que é velho e não nos serve e não funciona mais!

E é bom adotar esse tipo de atitude:

" Não trate como prioridade quem te trata como opção!"

Não mais!

Se não for uma troca edificante para todos, para mim não vale mais a pena!

“Amizade” do tipo “via de uma mão” somente não me interessa. Não mais!

E com isso aprendi a desapegar! A deixar ir!

Mauricio Franchi - "Veeresh Das"